Na manhã de terça-feira (15), representantes do PCdoB, do PT, do PMDB, do PSD, do PROS e do PP se reuniram na Câmara dos Deputados para dar início a uma contraofensiva em defesa do governo Dilma Rousseff. No encontro, os líderes e presidentes dos partidos lançaram um manifesto onde reforçam o apoio ao mandato da presidenta. O documento foi entregue à presidenta durante reunião no Palácio do Planalto.

“Precisamos defender um bem muito caro ao povo brasileiro, que foi a conquista da democracia. Esse é o sentido deste documento”, explica a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE).

O ato aconteceu após anúncio da oposição de formação de um movimento suprapartidário para pedir a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Para o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), a iniciativa é importante para demonstrar a unidade da base aliada. Agora, segundo o parlamentar, este movimento precisa ser estendido para outras áreas. “Precisamos reforçar este ato junto de movimentos sociais e entidades da sociedade civil”, afirma.

Uma das articuladoras da reunião, a líder do PCdoB na Casa, deputada Jandira Feghali (RJ), reiterou que o momento de crise política precisa ser superado. “A instabilidade política não favorece ninguém, muito menos o trabalhador, o cidadão. O governo precisa avançar em sua agenda com segurança e espaço para dialogar.”

A importância da governabilidade foi reforçada ainda pelo vice-presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp. “Não há como o PMDB apoiar qualquer tentativa de impeachment”, diz. A declaração foi reforçada pelo líder da legenda na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). “A presidente está 100% firme no cargo. A eleição se disputa até o término do pleito. Depois, se respeita o mandato que foi legitimamente advindo do voto popular.”

Para o ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), é preciso respeitar a vontade popular, expressa nas eleições de 2014. “O governo faz o que pode para melhorar as condições do país. Vivemos uma conjuntura econômica difícil, mas não podemos macular o fortalecimento da nossa democracia com ações que não estão compatíveis com a legalidade, que é hoje o grande patrimônio do Brasil. Começamos um primeiro passo para mostrar à sociedade brasileira que não é porque alguém acha que o governo não vai bem, que tem o direito de tirar o mandato à força”, declara.

O documento divulgado pelo grupo pede respeito ao resultado eleitoral de 2014 e ratifica compromissos das bancadas signatárias contra qualquer pedido de intervenção no mandato de Dilma Rousseff.

Leia a íntegra do manifesto.

Declaração em Defesa da Democracia e do Mandato Popular

Nós, representantes dos partidos que dão sustentação ao governo legítimo e democrático da presidenta Dilma Rousseff,

CONSIDERANDO que a presidenta Dilma Rousseff tomou posse, há pouco mais de oito meses, para um mandato de quatro anos, após vencer um pleito democrático, limpo e livre;

ASSINALANDO que é dever cívico, constitucional e democrático da presidenta da República honrar o mandato a ela concedido pelo povo brasileiro até o seu final;

ENFATIZANDO que o cumprimento do mandato obtido legitimamente nas urnas significa, sobretudo, respeito ao voto popular, base de qualquer democracia digna desse nome;

LAMENTANDO, contudo, que, desde a apuração dos resultados das urnas, forças políticas radicais, que exibem baixo compromisso com os princípios democráticos, venham se dedicando diuturnamente a contestar e questionar o mandato popular da presidenta Dilma Rousseff, utilizando-se dos mais diversos subterfúgios políticos e jurídicos, que vão desde o absurdo e inédito questionamento da urna eletrônica, lisura do pleito até a tentativa de criminalização de práticas orçamentárias em um contexto de crise fiscal e utilizadas por vários governos no passado, incluindo a contestação intempestiva das contas de campanha previamente aprovadas na justiça eleitoral;

CONSIDERANDO que tal processo se constitui numa clara e nova forma de golpismo, a qual, embora não se utilize mais dos métodos do passado, abusa dos mecanismos solertes das mentiras, dos factóides e das tentativas canhestras de manobras pseudo-jurídicas para afrontar o voto popular e a democracia;

COLOCANDO EM RELEVO que, embora manifestações populares que expressem anseios e insatisfações sejam legítimas, elas não podem servir de escusa torpe e oportunista para que invistam contra o mandato legítimo da presidenta, pois a ordem constitucional brasileira sabiamente impõe processo rigoroso e fundamentos jurídicos muito sólidos para a recepção de contestações de mandatos populares;

SALIENTANDO, ademais, que, num regime presidencialista, a legitimidade do mandato é dada exclusivamente pelas urnas, não podendo ficar ao sabor de pesquisas de opinião que retratam uma conjuntura econômica adversa e impactada pelo crise internacional associada a volatilidade de uma crise política artificialmente cevada por aqueles que se recusam a reconhecer sua derrota na última eleição;

OBSERVANDO, a esse respeito, que o principal entrave ao reequilíbrio das contas públicas e à consequente retomada do crescimento econômico com distribuição de renda, como é o desejo de todos os brasileiros, reside no atual clima político deteriorado, gerado pelo golpismo que tenta se impor sobre a governabilidade e que  dissemina sentimentos de insegurança, pessimismo e intolerância política por toda a sociedade;

CONVICTOS de que a presidenta Dilma Rousseff, cidadã incontestavelmente proba, honrada e dedicada, de forma integral, a trabalhar pelo bem do Brasil, fez avanços notáveis em seu governo para promover o combate à corrupção, ao fortalecer as instituições de controle e ampliar a transparência da administração pública, algo que seus críticos nunca fizeram;

CERTOS, do mesmo modo, de que a presidenta Dilma Rousseff, a qual enfrenta, desde o início de seu primeiro mandato, a pior crise mundial desde a Grande Depressão de 1929, esteve e está sinceramente empenhada, como o ex-presidente Lula, na promoção do desenvolvimento econômico com eliminação da pobreza e redução das desigualdades, processo até aqui exitoso, pois resultou na extinção prática da miséria e na ascensão social de 40 milhões de brasileiras e brasileiros, o que demonstra que os acertos desses governos progressistas foram muito superiores aos seus erros; e

CONSIDERANDO, por último, que é chegada a hora de todas forças sociais e políticas efetivamente comprometidas com o Brasil e sua democracia reafirmarem sua inestimável e bem-vinda contribuição para que o país supere suas atuais dificuldades e retome, o mais rapidamente possível, o desenvolvimento econômico e social, num ambiente de paz, reconciliação e respeito incondicional aos princípios democráticos;

DECLARAMOS:

I. Nosso firme e decidido apoio ao mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff, que se extinguirá somente em 31 dezembro de 2018;

II. Nosso mais veemente repúdio a toda forma de retrocesso democrático, que tente deslegitimar e encerrar de forma prematura o mandato popular conquistado, de forma limpa, em pleito democrático;

III. Nosso entendimento de que o Brasil demanda a superação do atual clima político deteriorado, o qual coloca sérios obstáculos à governabilidade e à recuperação econômica, dissemina a insegurança, o pessimismo, a intolerância e o ódio político pela sociedade, bem como envenena a democracia do país, duramente conquistada com a luta incansável de gerações de brasileiros;

IV. Nossa absoluta convicção de que o Brasil e sua democracia são muito maiores que as dificuldades econômicas e políticas que enfrentamos, e que o país superará, em breve, todos os entraves à retomada do desenvolvimento econômico e social, preservando e aprofundando o processo democrático do qual todos os brasileiros se orgulham e se beneficiam;

V. Nosso sincero convite a todas as forças políticas responsáveis do Brasil, que não apostam no “quanto pior melhor” ou não se omitem diante dos incapazes de apresentar propostas, a que deem sua bem-vinda contribuição para que o país se reencontre no caminho do crescimento econômico, da justiça social, da soberania e do crescente aprofundamento de sua bela e jovem democracia.