A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), recebeu na quarta-feira (6), a visita de Pierre Krähenbühl, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA). No encontro, ele destacou a importância da ajuda humanitária enviada ao país e reiterou a necessidade da manutenção deste apoio para os refugiados.

Em 2014, o Brasil contribuiu em aproximadamente 9,2 milhões de dólares, com doações de arroz para os refugiados vulneráveis e sem acesso à alimentação. Entre 2012 e 2013, as doações chegaram a aproximadamente 8 milhões de dólares para a UNRWA.

Em sua primeira visita ao Brasil, o comissário falou que nos ataques à Faixa de Gaza, as maiores vítimas são as crianças, motivo pelo qual o diplomata sugere a instituição de um projeto como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do Ministério da Educação (MEC), que contribui para desenvolvimento das crianças e formação de hábitos alimentares saudáveis, por meio da oferta da alimentação escolar e de ações de educação alimentar e nutricional.

Jô Moraes se dispôs a articular o apoio à causa palestina com associações e comunidades no Brasil. Segundo a parlamentar, um grupo de trabalho no Parlamento deve ser constituído para debater o assunto.

Em junho de 2014, a tensão entre israelenses e palestinos começou a se agravar e desencadeou mais um conflito que resultou em centenas de mortes e feridos – muitos deles crianças. A região vive esta situação desde a década de 1940, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas terras, cidades e aldeias durante a criação do Estado de Israel. Todas as tentativas de paz têm sido frustradas.

Confira a entrevista do comissário-geral da UNRWA à Comissão de Relações Exteriores.

CREDN: Qual a situação vivida hoje nos territórios palestinos?
A situação no Oriente Próximo [área que engloba a região da Ásia próxima ao mar Mediterrâneo, a oeste do rio Eufrates, incluindo Síria, Líbano, Israel, Palestina e Iraque] e nos territórios palestinos é muito crítica. São mais de 60 anos de ocupação. Há na Faixa de Gaza um bloqueio militar imposto por Israel. Só o conflito do ano passado deixou como consequência 120 mil pessoas sem casa, cuja reconstrução não consegue avançar.

Há, portanto, muitos problemas que a comunidade palestina não consegue resolver, sobretudo os relativos à nossa Agência para os Refugiados Palestinos. Eu creio que não se possa deixar uma situação deste tipo sem nenhuma ação política para tentar resolvê-la. Porque a cada ano que passa o quadro se apresenta mais grave, mais crítico em relação aos direitos humanos. Falamos de completa falta de dignidade, de respeito aos mais básicos direitos. São todos problemas muito importantes.

CREDN: Como se dá o trabalho da UNRWA?
A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) tem como responsabilidade cuidar de cinco milhões de refugiados palestinos que vivem na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria. Conseguimos resultados muito importantes ao longo desses 65 anos de existência. Por outro lado, temos que pensar no que conseguiremos fazer em termos de educação, saúde, segurança e isto nos faz lembrar também da falta de uma solução política para o problema.

O tempo passa e vemos gerações e gerações de palestinos que não têm uma perspectiva de ter um Estado próprio, de ter uma resposta, uma solução justa e digna para esta situação.
 
CREDN: De que forma o Brasil poderia contribuir para mudar esta realidade?
Então, nossos esforços são todos no sentido humanitário de desenvolvimento, mas também de uma ação que se pode chamar de influência e de construção de relações com a comunidade de Estados para nos apoiar no campo diplomático e financeiro. Evidentemente, há muito trabalho. Temos 700 escolas com carências de todos os tipos; temos 22 mil professores e outros profissionais da área de educação que são necessários para executar estes serviços, além de um milhão de crianças que frequentam estas escolas. Para conseguir administrar tudo isto é claramente necessário apoio diplomático e financeiro dos demais Estados.

Aqui no Brasil, minha visita é uma maneira de reconhecer o progresso importante que conseguimos com o Brasil nestes últimos anos e estou muito agradecido à Presidência, ao Itamaraty, ao Congresso, a todos os que apoiaram este desenvolvimento em distintas etapas.

Nossa presença é modesta, pequena, aqui no Brasil, mas é importante para estabelecer um diálogo diplomático e político sobre o apoio e iniciativas possíveis, sobretudo em termos financeiros, na educação, mas também alimentar. Tudo isto é muito importante.

O Brasil é o primeiro país latino-americano a entrar para os BRICS, em seu conselho e comitê consultivo. Então, penso que valha a pena intensificar visitas, por exemplo, de membros do Congresso brasileiro, do mesmo modo que estabelecer acordos e buscar formas de apoio mais regulares em termos orçamentários, em um movimento de solidariedade ao povo palestino de forma a mantermos a identidade e dignidade desta comunidade.

Sabemos que no Brasil as questões de direitos humanos e justiça são muito importantes e creio que temos uma perspectiva muito interessante de buscar este apoio. 

*Com informações do Portal Vermelho.