Profissionais de enfermagem são vítimas constantes de racismo, denuncia Enfermeira Rejane
A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados realizou, nesta quinta-feira (10), audiência pública para denunciar práticas sistemáticas de racismo contra profissionais da enfermagem.
Autora do pedido para a realização do debate, a deputada Enfermeira Rejane (PCdoB-RJ), relatou casos de práticas racistas contra a categoria, tanto por colegas nas unidades de saúde quanto por pacientes contra esses profissionais.
“A questão do racismo é muito forte e velada. Dentro da enfermagem, nos locais de trabalho, nos CTIs, centros cirúrgicos, isso se dá de uma forma muito forte. Você tem a categoria de enfermagem com homens e mulheres, que, por serem negros, não assumem os espaços de poder dentro das unidades de saúde. E em relação aos próprios usuários, você tem um paciente que não aceita ser tratado por uma profissional negra,” relatou.
A categoria é composta em mais de 80% por mulheres e o recorte de gênero, raça e social precisa ser levado em conta na análise das violências sofridas por profissionais. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) estima que aproximadamente 70% dos trabalhadores da área já sofreram algum tipo de violência. Para a deputada, a audiência foi um passo importante na luta contra o racismo na enfermagem.
“Tivemos um espaço de escuta e construção coletiva de soluções urgentes para um problema que atravessa a vida de milhares de profissionais negros e negras da Enfermagem em todo o Brasil”, disse.
Como resultado, a audiência trouxe alguns encaminhamentos concretos: apoiar a aprovação do Fundo de Combate ao Racismo, já aprovado na CCJ; apresentar um projeto de lei que inclua normas de combate ao racismo nos Códigos de Ética dos conselhos profissionais do país; impulsionar os encaminhamentos do Ministério da Saúde sobre equidade racial no trabalho em saúde; reforçar campanhas educativas nas unidades de saúde; exigir políticas de inclusão e diversidade na gestão de organizações sociais, como critério para contratos públicos; investir em formações antirracistas em todas as esferas da saúde; fortalecer políticas públicas de equidade e ampliar o debate com toda a sociedade.
Participaram do debate Alva Almeida, da Articulação Nacional de Enfermagem Negra (Anen); Manoel Neri, presidente do Cofen; Francyslane Vitória da Silva, do Conselho Nacional de Saúde; Sheila Dias, do Ministério da Igualdade Racial; Munique Correia, da Anahp; Silvana da Silva, do Ministério Público do Trabalho; e Evellin Bezerra da Silva, do Ministério da Saúde. Também estiveram presentes conselheiros federais e regionais, Ananten, Ordem dos Enfermeiros de Angola, parlamentares, movimento negro e organizações da sociedade civil.