A indiferença do governo Bolsonaro diante da tragédia ecológica com o vazamento de óleo no Nordeste chega a ser impressionante. Dois meses depois da descoberta do caso, nenhuma palha foi movida para enfrentar o problema. De acordo com o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, senador Fabiano Contarato (Rede-ES), "o presidente da República não tem noção da função dele". "É o capitão de um navio naufragando", afirmou em entrevista ao Portal UOL.

Bolsonaro sequer sobrevoou a região. Como disse o senador, as providências até agora foram provocadas pelo Judiciário porque o governo apenas "reage" ao que acontece "e de forma ineficiente". A reação mais enfática foi a de atribuir, irresponsavelmente, o acontecido ao governo da Venezuela, um retórica ideológica também com conotação de provocação.

Foi mais um caso em que, a exemplo das queimadas na Amazônia, o presidente optou pelo palavrório no lugar de ações. Como bem lembrou a deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) em seu Twitter, Bolsonaro precisa responder criminalmente por sua omissão.

Enquanto o presidente, negligente, cruza os braços, o povo e os governadores do Nordeste agem para enfrentar esse crime ambiental. Um exemplo digno de ser notado é o do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, que, mesmo atacado por Bolsonaro – e defendido por outros governadores do Nordeste –, vai se reunir com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para tratar do assunto.

De certa forma, essas atitudes de Bolsonaro não surpreendem por ser este governo um mero administrador de interesses alheios às questões do povo e da nação. A indiferença com o meio ambiente faz parte do modelo de governo do bolsonarismo. Basta lembrar que a extinção dos conselhos da administração federal atingiu dois comitês que integravam o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), instituído em 2013.

A defesa do meio ambiente é uma imposição do atual estágio de desenvolvimento econômico em âmbito mundial. Fugir dessa pauta é ignorar uma compreensão que já se ergueu ao nível de consciência mundial. A situação de dependência de matérias-primas por todas as nações e as dificuldades de provisão de energia e de alimentos remetem o problema para uma discussão literalmente quente.

Essa indiferença do governo brasileiro dá pretexto aos que se julgam no direito de se intrometer em assuntos internos brasileiros. Ela corrói o acúmulo do Brasil nessa questão, como ocorreu na elaboração dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, órgão da ONU que congrega especialistas de mais de 120 países). O então governo brasileiro fez um esforço diplomático, juntamente com Índia, China e México, para pressionar os países ricos a reconhecer que historicamente eles poluíram mais do que as nações “emergentes”.

A batalha foi para pôr no texto oficial do último relatório uma referência atribuindo aos países ricos mais responsabilidades pelo aquecimento global, um fenômeno que sem dúvida precisa ser visto sob uma perspectiva histórica (o relatório do IPCC afirma que existem tecnologia e recursos para manter as emissões de gases dentro de limites que assegurem um aumento máximo de 2 graus até o final do século).

A iniciativa foi um contraponto às versões que rodam o mundo, por meio dos monopólios de comunicação, que atribuem aos países pobres a responsabilidade pelo problema e reivindicam o controle internacional de espaços ecológicos como a Amazônia. Com ela, foi possível mostrar que o Brasil tem condições de aperfeiçoar a experiência de crescimento de boa parte das economias industriais e realizar um desenvolvimento econômico pujante e compatível com a preservação ambiental. É no mínimo lamentável que o governo brasileiro aja para pôr tudo isso a perder.