Elas coloriram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com seus turbantes e roupas coloridas nesta quarta-feira (19). Aproximadamente, 10 mil mulheres caminharam do ginásio Nilson Nelson até o Congresso Nacional, pedindo igualdade, o fim do racismo e da violência contra a mulher. No entanto, o protesto pacífico acabou em violência ao passar pelo acampamento montado em frente ao Congresso Nacional que pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a volta do regime militar. Leia também: Dez mil marcham contra racismo e violência

“Eles estavam demarcando território. Faziam gestos que indicavam que estavam armados, numa postura de ameaça às manifestantes. Até que começamos a ouvir as bombas e os tiros”, relata o fotógrafo Richard Silva. Confira nossa cobertura fotográfica.

Segundo informe da Polícia Militar, dois policiais civis foram presos por disparar tiros durante o ato. Pelo menos um dos dois faz parte do grupo acampado em frente ao Congresso. Segundo o major da PM Juliano Farias, Jorge Luiz Damasceno é policial reformado e é o mesmo que foi preso na última quinta-feira (12) com um revólver e armas brancas escondidas em seu carro.

“Foi uma cena de horror. Estávamos voltando da Marcha quando deram os tiros. O manifestante pró-golpe foi imediatamente preso pela polícia. Uma manifestação de ódio e intolerância que nós não podemos aceitar. O PCdoB vai reagir a altura e solicitar à mesa diretora da Câmara e do Senado que não permitam esse acampamento com pessoas armadas, perto do Congresso Nacional. Isso vai de encontro a qualquer tipo de manifestação plural e democrática”, afirma a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE).

Para a líder comunista na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ), “os extremistas da direita não toleram a democracia. Nem a respeitam”. "Foi uma marcha linda, de mulheres que acumularam preconceitos e angústias e saíram em marcha pela primeira vez. Isso que está acontecendo aqui é a expressão clara de que não está se respeitando o regimento dessa Casa. O ato conjunto número 1 de 2001 veda a ocupação deste espaço em frente ao Congresso. E esse acampamento, montado exatamente lá, impede a pluralidade de expressão dos movimentos aqui na frente", diz.

Plenário

As cenas de horror chegaram ao Plenário da Câmara, onde parlamentares debatiam os vetos presidenciais. Enquanto deputados e senadores denunciavam os ataques sofridos pelas manifestantes, um grupo tentava acobertar a ação dos acampados. Alberto Fraga (DEM-DF), defensor da liberação das armas na Câmara, afirmou, por exemplo, que “o acampamento está incomodando porque é contra a presidente Dilma, e querem usar esse episódio para desmobilizar o movimento”.

Para o deputado Wadson Ribeiro (PCdoB-MG), as atitudes são lamentáveis. “Há poucos dias eu e o deputado Orlando Silva fomos ameaçados verbalmente por um grupo que integra o acampamento pró-golpe. Na semana passada, um policial reformado foi preso neste mesmo acampamento com um verdadeiro arsenal que incluía uma pistola, soco inglês, corrente, luvas, sprays e furadores de gelo. Hoje presenciamos o disparo de tiros e bombas caseiras. É preciso tomar uma atitude urgente", cobra.