O novo ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), não sustentou nem por doze horas as declarações feitas ao jornal Folha de S.Paulo na segunda-feira (16). Em uma entrevista exclusiva, o titular da Pasta foi taxativo em relação à necessidade de se rever o tamanho do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que, segundo ele, o Estado não conseguiria “sustentar o nível de direitos que a Constituição determina”. No entanto, após repercussão negativa da entrevista, o novo ministro recuou e disse que SUS está estabelecido.

Para o líder da Bancada do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), as declarações de Barros confirmam o retrocesso que representa o governo Temer. “O SUS é uma conquista que está estabelecida na nossa Constituição devido à luta do nosso povo por uma saúde pública de qualidade para todos os brasileiros. Restringir o SUS, quando ele está numa trajetória de elevação de seu padrão de atendimento é intolerável”, afirma.

Ricardo Barros teve parte de sua campanha para deputado federal em 2014 financiada por um sócio do Grupo Aliança, uma gigante dos planos de saúde. A relação explicaria o interesse do novo ministro em ampliar a capilaridade da privatização da saúde pública entre a população brasileira. Segundo ele, “quanto mais gente puder ter planos [de saúde], melhor, porque alivia o custo do governo em sustentar essa questão”.

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o aparente recuo de Barros é falso. De acordo com ela, o discurso sobre políticas focais em substituição à universalidade do SUS é uma “vergonha” e foi duramente combatido na década de 1990.

“Não acredito nesse recuo. É de fato o que ele e o governo Temer pensam. É um governo que volta à década de 1990 com a visão neoliberal do Estado mínimo; um discurso que volta ao Estado versus o favorecimento do mercado no campo da saúde, como se saúde fosse mercadoria. Além disso, o discurso dele é muito consistente. Ele fala que tem de favorecer os planos de saúde, que o SUS não pode ser financiado, questiona o papel do Estado. Quando ele faz uma sequência nesse raciocínio significa que esse é o desejo da gestão. Acho que esse é o objetivo e não tenho dúvidas que eles vão armar para tentar fazê-lo. Mas não terão tempo, pois estamos lutando para trazer Dilma de volta”, alerta a parlamentar.

Oposição declarada ao governo interino de Temer, a Bancada Comunista promete denunciar as irregularidades da atual gestão. O risco de retrocesso é grave, mas ainda é tempo de acordar e resgatar o sentimento cívico, da preservação das nossas conquistas e da democracia”, diz o líder Daniel Almeida.