Onze dias depois de o Senado Federal afastar Dilma Rousseff da Presidência da República por 180 dias, com a abertura da análise do pedido de impeachment, as manobras contra a presidenta vêm a público e confirmam o golpe em curso no país. Na madrugada desta segunda-feira (23), o jornal Folha de S.Paulo divulgou conversa entre o então ministro do Planejamento do governo interino de Michel Temer, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Na gravação, Jucá fala em pacto para travar avanço da Operação Lava Jato.

Em trechos da conversa, Jucá é categórico ao dizer que “com Dilma não dá” e que a saída para a interrupção das investigações é o impeachment da presidenta. “Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. […] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.”

No final da manhã, Jucá rebateu as acusações e disse ser um equívoco do jornal paulistano. No entanto, a suposta “tranquilidade” do peemedebista não durou e às cinco horas da tarde Jucá anunciou que a partir desta terça-feira (24) vai se licenciar do cargo de ministro do Planejamento até que o Ministério Público Federal dê seu parecer sobre o caso.

Para o líder da Bancada do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA), as declarações de Romero Jucá certificam “a fraude do golpe”. “Isso só confirma o que já dizíamos que estava em curso. Um dos objetivos do golpe era frear a Lava Jato. O Supremo Tribunal Federal deve intervir imediatamente e tratar Romero Jucá da mesma forma que tratou Delcídio do Amaral. Temos que interromper essa trajetória golpista”, diz.

Chico Lopes (PCdoB-CE), presidente da Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara, afirma que se havia dúvidas sobre o significado das articulações da oposição e de alas do PMDB, as gravações “escancaram a atuação coletiva do grupo de Temer, de setores do Legislativo e do Judiciário, em prol de um golpe no país”. "O golpe está desmascarado de vez e precisa ser revertido. É preciso a urgente retomada da democracia, com o fim da interinidade golpista e com investigações sérias sobre Jucá, sobre o ex-senador Sérgio Machado, o PSDB e todos os citados como envolvidos no seu 'pacto para frear a Lava Jato'", defende o deputado.

Na última semana, a ministra Rosa Weber deu um prazo de 10 dias para que Dilma Rousseff explicasse as razões de chamar seu processo de impedimento de golpe. O questionário atende uma ação ajuizada por deputados que faziam oposição ao governo da petista. Após a divulgação dos áudios de Jucá e Machado, jornalistas e ativistas sugerem que Dilma encaminhe as conversas para avaliação da ministra da Suprema Corte.

O PCdoB é uma das legendas que vem denunciando há tempos o golpe em curso, mas tem sido desacreditado por alguns setores. “Nada como um dia após o outro. A gente denuncia e muitas pessoas não acreditam. Acham que são apenas palavras de ordem, panfletos, mas tiraram Dilma da sua cadeira no Palácio do Planalto para possibilitar a interrupção da Operação Lava Jato. Não foi para limpar o Brasil. A atitude de Jucá naquele telefonema, ao demonstrar a articulação em torno de Michel Temer, se chama obstrução de justiça. Eles armaram um golpe para paralisar a investigação e a punição dos corruptos da Lava Jato. Isso significa prisão”, defende a deputada Jandira Feghali (RJ).

Com a queda de um dos nomes fortes do governo Temer, os 11 primeiros dias de gestão do vice de Dilma ficam marcados pela má fé, inabilidade e confusão. Para a deputada Angela Albino (PCdoB-SC), “a cada dia do governo Temer fica mais evidente que ele representa a velha política e os velhos métodos de obstruir investigações”.