Enquanto 150 mil manifestantes eram reprimidos na Esplanada, a base governista insistia em votar propostas de interesse do Palácio do Planalto na Câmara dos Deputados para aparentar normalidade no país. Como se não bastasse isso, o presidente golpista Michel Temer pediu a intervenção das Forças Armadas, instalando um Estado de sítio. Em protesto, a Oposição se retirou do Plenário da Casa que seguiu votações.

Na direção do Congresso Nacional, milhares de pessoas caminharam defendendo a democracia e as ‘Diretas Já’. Exigiram ainda a saída imediata de Temer da Presidência da República. Sob o sol forte do Planalto Central, parlamentares, líderes sindicais e movimentos estudantis lutaram nas ruas contra as reformas da previdência e trabalhista.

“Temer assumiu o Palácio do Planalto pela via golpista para prejudicar os trabalhadores do Brasil, os mais pobres. Este governo está entregando o país ao capital internacional, desmontando a Petrobras. Não queremos este governo sem legitimidade. Voltamos à campanha das ‘Diretas Já’”, disparou Davidson Magalhães (PCdoB-BA).  

Depois da grande greve nacional ocorrida em 28 de abril, o dia 24 de maio de 2017 entra para a história do país como um novo momento de resistência da população aos desmandos de um governo ilegítimo. Observando a multidão do alto do carro de som, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) defendeu a devolução da escolha do representante ao povo. "A soberania do voto popular deve prevalecer. Aqui estão reunidas todas as frentes, partidos e centrais sindicais, numa demonstração clara de que a democracia precisa voltar a este país.”

Parte da classe artística declarou seu apoio aos milhares de brasileiros que ocuparam Brasília. O ator Osmar Prado pediu a “suspensão imediata das reformas trabalhista e previdenciária” e a convocação de eleições diretas. “Represento aqui setores da classe artística progressista. Estou defendendo o Estado Democrático de Direito”, salientou Osmar.

Quando a marcha se aproximou do Ministério da Justiça foi possível ouvir e ver as bombas de gás cruzando o ar. Entre as bandeiras dos movimentos sociais, a Polícia Militar do Distrito Federal lançou spray de pimenta contra o ato.

Na Esplanada, aproximadamente 40 mascarados infiltrados entre os manifestantes partiram para cima das grades com paus e pedras contra a PMDF, acirrando o confronto. Até então, todos seguiam de forma pacífica para o Congresso.

Com dificuldade para falar, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos, disse que partiu dos agentes de segurança a “provocação”. “É lamentável! Os verdadeiros provocadores estão fardados. Depois, quando tem problema, querem jogar no nosso colo”, afirmou.

Diante do descontrole da polícia nas ruas e da incitação de um “grupelho” ao confronto, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) fez um apelo para que tirassem as máscaras e cessassem as intimidações. “A manifestação está pacífica. Não aceitamos violência e nem aceitamos intromissão. Mascarados, mostrem seus rostos. Aqui tem trabalhadores, gente do bem. Esta luta é contra o golpe”, disse a senadora tentando evitar atos de violência.   

No final da tarde, o ministro da Defesa, Raul Jungmann solicitou a presença do Exército em toda a área que é de Segurança Nacional. "O senhor presidente (Michel Temer) decretou, por solicitação do senhor presidente da Câmara, a ação de garantia da lei e da ordem. Nesse instante, tropas federais se encontram neste palácio [do Planalto], no Palácio do Itamaraty e logo mais estarão chegando tropas para assegurar que os prédios dos ministérios sejam mantidos incólumes", anunciou em nota o ministro.

Temer se valeu disso para colocar Forças Armadas na rua até o dia 30 de maio. Na verdade, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu a presença da Força Nacional para proteger o Parlamento.

Antes de deixarem o Plenário, parlamentares do PCdoB, PT, PSol, Rede e PDT pediram a anulação do decreto presidencial. Líder do PCdoB na Câmara, a deputada Alice Portugal (BA), denunciou a “ditadura” de Temer. “O que ocorreu hoje entra para história. Nem na ditadura o Congresso foi cercado. Este decreto é inconstitucional. Não podemos admitir Estado de sítio por uma semana. O Supremo e o Senado cancelaram sessões. A Câmara tem de fazer o mesmo”, afirmou. 

O artigo 142 da Constituição prevê essa alternativa, mas tem de ser regulamentada pela Lei Complementar 97, onde estão estabelecidas as condicionantes, dizendo que o presidente só pode convocar as Forças Armadas se efetivos de segurança pública tiverem falido no controle da situação. Além disso, esta falência deve ser declarada pelo Poder Executivo Estadual que era quem estava no comando da situação. "Isto não foi cumprido. Temer hoje comete um grave ato. Ele tenta usar as Forças Armadas, uma instituição fundamental, que está cumprindo a sua função constitucional, em benefício de sua permanência. Cuidado, presidente, este é um caminho perigoso!”, disse a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG).

Oposição paralisa Plenário da Câmara

Com cartazes e palavras de ordem, parlamentares oposicionistas chegaram a impedir que votações da base governista avançassem durante a tarde. A repressão violenta de manifestantes no Eixo Monumental e a possibilidade de intervenção militar elevou a tensão em Plenário.

Líderes e parlamentares de partidos da Oposição ocuparam a Mesa Diretora da Câmara para pressionar pela saída imediata de Temer. Aos gritos de ‘Fora Temer’ e ‘Diretas Já’, tentavam impedir que a sessão prosseguisse. A informação de que Temer acionou por decreto as Forças Armadas acirrou os ânimos. Os trabalhos tiveram de ser paralisados por Maia, que convocou colégio de líderes para discutir o impasse.

Alice Portugal cobrou o encerramento imediato da sessão por meio da aprovação de requerimento regimental apresentado. “Temos de encerrar a sessão, porque o clima que hoje fomos submetidos é antagônico às liberdades democráticas e à livre manifestação. A grande massa não se insurgiu contra a polícia, mas há feridos lá fora. Esta sessão não tem condições de persistir”, destacou.

Os protestos começaram após governistas tentarem intimidar deputados que denunciavam, em Plenário, o uso de gás de pimenta e bombas de efeito moral contra a mobilização pacífica do lado de fora do Congresso. Cápsulas de artefatos arremessados contra manifestantes foram mostradas pelos oposicionistas.

Na manhã de quinta-feira (25), após intensa polêmica em torno do decreto que autorizava a permanência das Forças Armadas nas ruas por sete dias, uma nova ordem revogou a decisão anterior. No texto, publicado em edição do Diário Oficial da União, o presidente ilegitímo aforma que, "considerando a cessação dos atos de depredação e violência e o consequente restabelecimento da Lei e da Ordem no Distrito Federal, em especial na Esplanada dos Ministérios", ele decidiu retirar os militares das ruas de Brasília.