O caráter meramente político da decisão, com frágil base jurídica, foi criticado pela senadora Vanessa Grazziotin. A líder do PCdoB no Senado também destacou que seus pares favoráveis ao julgamento de Dilma não levaram em conta “as perícias técnicas e pareceres jurídicos inclusive do Ministério Público, que desmentem as acusações. É essa a verdade”, afirmou.

A peça elaborada com o objetivo de desconstruir gestões progressistas de Dilma e Lula aponta descumprimento das leis fiscais e orçamentárias na edição de decretos de crédito suplementar e nos atrasos em repasses de subvenções do Plano Safra, em 2015, por parte da presidenta afastada.

Para os demais senadores que votaram contra o processo de impeachment, Anastasia não conseguiu, em seu relatório, apresentar prova que Dilma tenha cometido crime. O senador Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado, disse que o argumento das chamadas “pedaladas fiscais” foi prática recorrente em outras gestões, inclusive durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), sem qualquer manifestação pelo afastamento do tucano.

Os 100 dias de trabalho da Comissão foram denunciados por Costa como “mero formalismo”. “O que estamos fazendo é dando ‘pedalada’ constitucional, passando por cima da Constituição para atender a um projeto político. Querem vencer no Parlamento porque não conseguem vencer nas urnas”, reforçou Costa.

Conforme a senadora Vanessa Grazziotin, o resultado na Comissão se deu pela forte pressão política do presidente interino, Michel Temer (PMDB), que quer assumir presidência e dar celeridade na operação para abafar os casos de corrupção de seus aliados. “Neste momento em que o Brasil assiste, estarrecido, às denúncias de corrupção, e que o nome da presidenta não foi incluído em nenhuma delas, estamos nós aqui, o Senado Federal, a dizer que ela tem de ser cassada por conta de três decretos, decretos que foram assinados não só por presidentes anteriores, mas pelo vice usurpador, Michel Temer”, disparou.

“É um momento muito triste para o nosso país, mas vamos seguir, pois a luta continua no plenário”, acrescentou a senadora.

Para prosseguir o rito de impedimento e chegar ao julgamento final, o texto ainda precisa ser apreciado pelo plenário do Senado nesta terça-feira (9). Os congressistas precisam aprovar o relatório de Anastasia, por maioria simples. Caso contrário, será arquivado e Dilma reassume a Presidência da República. O quórum necessário da sessão é de mais da metade dos presentes.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, marcou para o dia 29 de agosto, sexta-feira, o início da análise definitiva do processo, num eventual julgamento. A previsão do magistrado é que esta fase se estenda por uma semana. Temer pressiona para que essa etapa seja antecipada para os dias 25 ou 26 deste mês.