Marçal de Souza, Marcos Veron, Dorival Benites, Simião Vilhalva são alguns dos mais de 390 indígenas assassinados em Mato Grosso do Sul em decorrência da luta pela terra nos últimos anos. O dado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) remete ao massacre diário vivido pelos Guarani Kaiowá desde 1983, quando Marçal de Souza foi assassinado por lutar por seu território.

Esta semana, este povo voltou a sofrer com as “investidas” ruralistas. Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, um Guarani Kaiowá de 23 anos, foi a mais recente vítima deste conflito por terra. O agente de saúde indígena foi morto na tarde de terça-feira (14), depois que um grupo de produtores rurais cercou uma fazenda que havia sido ocupada dois dias antes por indígenas que reivindicam a área. Outros cinco índios ficaram feridos, entre eles uma criança de 12 anos, todos atingidos por munições letais, de acordo com o hospital onde estão internados.

O episódio ocorre menos de um ano depois da morte de Semião Vilhalva na mesma região. Leia também: Assassinato de indígena por latifundiários gera protesto

De acordo com o Cimi, a ação foi organizada pelos fazendeiros com apoio do Sindicato Rural de Caarapó e “escancara o genocídio em curso contra os povos indígenas em Mato Grosso do Sul”.

“Não é confronto de índio, é ataque dos pistoleiros a mando dos latifundiários. Até na cidade a gente é perseguido por ser indígena. Essa terra é nossa. Nós vamos enterrar nossos guerreiros aqui, mas não vamos sair”, afirma a líder Guarani Kaiowá Valdelice Veron.

No Congresso, no entanto, a voz do latifúndio ecoou mais alto e os ataques foram banalizados por parlamentares que defendem o agronegócio. A deputada Tereza Cristina (PSB-MS) afirmou que “estava tudo calmo” na região até que os índios “foram incitados contra os produtores rurais”. “Vai continuar havendo mortes, se isso não parar. Esse incitamento vai proporcionar uma quantidade maior de mortes naquela região”, justifica a parlamentar.

Luis Carlos Heinze (PP-RS), conhecido defensor dos interesses ruralistas, usou a velha máxima do desenvolvimento a qualquer custo para referendar o ataque aos indígenas. Para ele – assim como para a totalidade da bancada do agronegócio –, a vida de um índio não merece misericórdia e vale menos que um pedaço de terra.

“O abuso realizado começou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criou o maior absurdo que se poderia criar, ao relegar ao quinto plano o direito de propriedade. Não há país no mundo que possa crescer e se desenvolver sem que se respeite o direito de propriedade. Portanto, esses produtores legitimamente defendem a sua propriedade. No estado do Mato Grosso do Sul, um dos maiores produtores do Brasil, as terras acabam não valendo nada por causa dessa baderna, mas o governo Michel Temer está dando uma direção para o país”, declara Heinze.

As falas desses deputados evidenciam a clara intenção de criminalizar organizações que trabalham com os povos indígenas e as etnias que vivem no Brasil. Diversas Comissões Parlamentares de Inquérito tramitam em âmbito legislativo federal e estadual, a exemplo da CPI do Cimi, da Funai e do Incra. No entanto, a CPI do Genocídio, reivindicada pelos indígenas e movimentos sociais, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, por exemplo, foi desmontada pela bancada ruralista estadual.

Após os ataques, a Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou, em nota, que agentes da Força Nacional foram deslocados à região para conter a violência.

*Com informações do Cimi.