Réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conta com proteção especial do Palácio do Planalto e teve a decisão sobre o seu futuro político adiada mais uma vez no Conselho de Ética. Agora, foi postergada para a próxima terça-feira (14). “Cunha manda no Michel Temer. Isto é um escárnio contra o povo brasileiro”, avalia Daniel Almeida.

Nesta semana, o presidente interino entrou em cena, trabalhando nos bastidores para influenciar os membros do colegiado a aplicar pena mais branda contra Cunha, tentando evitar inclusive a apreciação do caso pelo Plenário da Casa. Estas manobras deixam mais claro, conforme o líder comunista, que “Cunha interfere no Conselho de Ética com o objetivo de salvar seu mandato. E utiliza o poder político que está no comando do país”.

O deputado acrescenta que o peemedebista está atuando fortemente no governo federal, negociando com o PRB e outros partidos na Câmara. Na noite de segunda-feira, Temer marcou um jantar às pressas com a cúpula do PRB para operar em favor de Cunha no Conselho. Após a conversa, o presidente da legenda se encontrou com a deputada Tia Eron (PRB-BA), que foi pressionada e acabou não comparecendo à sessão. Se o relatório fosse votado nesta semana, caberia ao suplente Carlos Marun (PMDB-MS), um dos principais defensores de Cunha, votar no lugar dela. A expectativa é que, neste cenário, o réu do STF fosse absolvido com placar de 11 votos a nove.

O voto dela é disputado nos corredores do Congresso por apoiadores de Cunha, pois define o destino do peemedebista. Após esta tentativa de enquadramento da deputada do PRB que havia sinalizado voto favorável à cassação, parlamentares denunciaram a intervenção de Temer no Conselho de Ética para evitar a queda de seu aliado. 

Para evitar a absolvição de Cunha, o relator Marcos Rogério solicitou tempo para ler o voto em separado apresentado pelo deputado João Carlos Bacelar (PR-BA). O deputado pediu para analisar o texto, que pretende amenizar a punição contra Cunha, apenas suspendendo o mandato por três meses.

Enquanto o processo se arrasta no Conselho de Ética, houve a substituição de dois integrantes titulares do PR na composição da Comissão de Constituição e Justiça, nesta quarta-feira (6), por integrantes da tropa de choque de Cunha. O intuito é aprovar a consulta sobre votação de processos disciplinares que beneficiaria Cunha. A matéria está na pauta da comissão.

Para Daniel Almeida, o STF precisa agir de maneira célere, evitando mais manobras na Câmara. “A expectativa que temos é que o Supremo faça o julgamento do pedido de prisão do Eduardo Cunha, para que esta nefasta presença seja retirada na cena política brasileira”, afirma. 

As articulações do peemedebista e do Palácio do Planalto no Congresso não foram capazes de interromper as investigações feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A Procuradoria comprovou a existência de 5,2 milhões de dólares em uma conta na Suíça, ligada ao deputado, que servia para recebimento de verbas desviadas do esquema de corrupção da Petrobras. O que reforçou a acusação de falso testemunho de Eduardo Cunha na CPI da Petrobras, que afirmou a inexistência de contas em seu nome fora do país.

“É o último suspiro de Eduardo Cunha diante de algo inevitável: o fim de sua carreira política. Ou ele é cassado pela Câmara dos Deputados ou o STF determina sua prisão. Ele continua interferindo nos trabalhos da Câmara, mas, em breve, será uma página do passado,” destaca o deputado Rubens Pereira Jr (PCdoB-MA).