Na noite de quarta-feira (4), o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostas irregularidades no uso de dinheito público pela União Nacional dos Estudantes (UNE). O anúncio foi feito doze horas antes do afastamento, por liminar, do parlamentar de seu cargo e mandato, e ficou marcado como seu último ato de vingança – um dos motivos listados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para acatar, por unanimidade, o afastamento do deputado de suas atividades no Legislativo.

Para a presidente da entidade, Carina Vitral, a criação da CPI comprova o modus operandi  de Cunha. “Chantagem e ameaça são os métodos de fazer política de Cunha. Feliciano, autor do pedido, começou a colher as assinaturas na semana que eu fui autora de uma ação popular pelo afastamento do Eduardo Cunha. Isso não é coincidência. É retaliação, como foi reconhecido pelo STF. Mas se ele acha que vai calar a UNE com isso, está muito enganado. Não entenderam nada. Não conhecem a força da juventude brasileira”, diz a líder estudantil, prometendo manutenção da luta em defesa da democracia.

No PRC 138/16, para mascarar a intenção política da CPI, Feliciano justifica a investigação parlamentar com base, unicamente, em notícias veiculadas na imprensa. No entanto, a argumentação do parlamentar, em seus discursos no Plenário da Câmara, são carregadas de rancor pela luta da entidade contra o impeachment de Dilma Rousseff. “O passo mais importante deste momento histórico é o processo de impeachment contra a senhora presidente Dilma Rousseff pela Comissão Especial do Impeachment, da qual faço parte como titular. Mas, ao sair de uma dessas reuniões de trabalho, fui abordado de forma violenta por alguns rapazes que se identificaram como integrantes da UNE, panfletando contra o impeachment, com palavras de ordem: "Não vai ter golpe!"”, disse o parlamentar em um de seus discursos onde pedia apoio para a criação da CPI.

A deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que já foi foi dirigente regional da entidade, critica a iniciativa. Segundo ela, não há fato determinado para a criação da CPI, mas diz que a entidade “não tem nada a temer” e que se a investigação for posta em curso, o PCdoB “lutará para defender os direitos dos estudantes”.

Após a leitura da CPI, os líderes partidários deveriam indicar os nomes para a composição do colegiado. De acordo com o pedido, o grupo seria composto por 23 titulares e igual número de suplentes. No entanto, até o momento não houve movimentação partidária para indicar os nomes.

O deputado Rubens Pereira Jr (PCdoB-MA), vice-líder da Bancada do PCdoB na Câmara, assim como em outros atos de Cunha, os parlamentares devem pedir a anulação da criação da CPI. “Não tememos nenhum tipo de investigação. A UNE tem uma história de luta aguerrida e está pronta para mostrar, mas perseguição política não podemos permitir. Isso é criminalização dos movimentos sociais. Já rasgaram a Constituição no processo de impeachment e agora querem perseguir aqueles que se mantiveram contra o golpe instalado no país. Não podemos permitir.”