Foram necessárias oito sessões para que o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados tomasse a decisão de dar continuidade à representação contra o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Depois de mais de duas horas de debates e novas tentativas de manobras dos aliados de Cunha, parlamentares aprovaram, nesta terça-feira (15), o parecer preliminar do deputado Marcos Rogério (PDT-RO) por 11 votos a 9.

Agora, Eduardo Cunha terá 10 dias úteis para apresentar sua defesa escrita, mas o prazo só começa a correr depois que o parlamentar for notificado.

“É irrevogável agora o início do processo no Parlamento”, comemora a líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ).

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), depois de tantas manobras, é uma vitória o resultado no Conselho de Ética. “Já passou do tempo de Eduardo Cunha desapegar da Presidência da Câmara. Ele tem realizado manobras inimagináveis para salvar a si próprio. Mentiu para a Câmara, só isso já seria motivo suficiente para que ele saísse”, lembra a parlamentar.

A representação contra o presidente da Câmara é fruto de uma ação do PSol e da Rede Sustentabilidade. Os partidos argumentam que Eduardo Cunha assumiu práticas incompatíveis com o decoro parlamentar, como a omissão intencional de informação relevante ou prestação de informação falsa. Cunha é acusado de mentir à CPI da Petrobras, quando disse, em maio, que não possui contas no exterior. Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça revelaram mais tarde, a existência de contas no país europeu. Depois disso, Cunha admitiu ter ativos na Suíça, mas alegou não ser “dono” das contas e sim “usufrutuário” dos recursos, já que as contas, justificou, são administradas por trustes (entidades legais que administram bens em nome de um ou mais beneficiários).

A aprovação do relatório preliminar aconteceu no mesmo dia em que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram a Operação Catilinárias, com o cumprimento de 53 mandados de busca e apreensão referentes a sete processos instaurados a partir de provas obtidas na Operação Lava Jato. O alvo mais ilustre da operação é Eduardo Cunha, que teve suas casas, no Rio e em Brasília, além da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, vasculhadas por agentes federais. O objetivo é evitar que provas importantes sejam destruídas pelos investigados.

“Incrível o fortalecimento das instituições. Mas vai ter gente reclamando. São daqueles que não se habituam às mudanças. Eduardo Cunha, Edison Lobão, Aníbal Gomes, Henrique Eduardo Alves, Celso Pansera e outros. PF não alivia para ninguém. Ainda bem”, afirma vice-líder do PCdoB na Câmara, Rubens Pereira Jr.