Na tentativa de criar uma “rota de fuga” para o próprio processo no Conselho de Ética, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiou para a sessão ordinária desta terça-feira (8) a eleição dos nomes para compor comissão especial que analisará a tentativa de impedimento do mandato da presidenta Dilma Rousseff.

Coincidentemente, a sessão foi marcada para o mesmo horário da reunião do Conselho de Ética, que tem na pauta do dia a análise do processo contra Cunha. Além de tentar desviar a atenção das investigações contra o presidente da Câmara, o adiamento dá protagonismo à oposição que tenta viabilizar o golpe a todo custo.

Para a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), isso é inaceitável. “Eles querem retardar o processo de impeachment por dificuldades políticas, e é mais uma alteração do trâmite normal do Congresso Nacional. Representa uma tentativa de golpe dentro do golpe e só revela o tipo de armação que se faz nesta Casa.”

A manobra dá tempo à oposição que, descontente com indicações dos partidos da base do governo feitas nesta segunda-feira (7) para a comissão especial, durante reunião de líderes, articula a criação de uma chapa alternativa para que deputados anti-Dilma possam ter maioria na Comissão do impeachment, que terá 65 membros.

Os partidos de oposição querem conseguir 35 deputados federais para formar uma chapa avulsa que dispute a composição da comissão especial que produzirá parecer pelo arquivamento ou continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O mínimo estabelecido por Cunha para a participação de uma chapa oposicionista é de 33 deputados federais. A ideia da oposição é compor o colegiado com parlamentares "Fora, Dilma" do PSDB, DEM, PPS, SD, PMDB, PSD, PP, PTB, PHS e PRB.

Além do descumprimento do acordo firmado em torno de uma lista consensual de nomes indicados pelos líderes, e da quebra de proporcionalidade de partidos na composição da comissão, a Câmara está presenciando iniciativas que incentivam um golpe institucional.

A deputada Jandira Feghali (RJ), líder da bancada comunista, condena esta que é mais uma conduta antiética do presidente da Câmara. “O deputado Cunha viola a Constituição, a lei dos partidos e o regimento interno da Casa, quando bota em confronto o papel dos líderes das legendas e de uma chapa avulsa. Ele equaliza como se tivessem o mesmo valor. É a ‘chapa Cunha’ e o ‘impeachment Cunha’.”