A Câmara dos Deputados é a Casa do Povo, mas não foi o comportamento demonstrado na tarde desta quarta-feira (10).  Em meio a manifestações contrárias à redução da maioridade penal, na sessão que votaria o relatório final da Proposta de Emenda à Constituição 171/93, dezenas de participantes de movimentos sociais foram agredidos física e verbalmente. Jovens da União da Juventude Socialista (UJS), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) estavam presentes e protestavam contra a PEC, bradando "Não, não à redução!".

A confusão começou quando parlamentares favoráveis ao texto pediram à segurança que os jovens fossem retirados do plenário. Os estudantes vaiaram a decisão e intensificaram a manifestação contrária ao projeto, subindo em algumas das mesas onde ficam os parlamentares. “A resposta da Polícia Legislativa foi usar gás de pimenta contra todos os manifestantes. Alguns jovens foram levados ao departamento médico”, declarou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que parabenizou a juventude pela coragem e pela luta.

Carina Vitral, recém-eleita presidente da UNE, sofreu a truculência na pele. “Estávamos protestando de forma pacífica, apenas entoando palavras de ordem pelas quais fomos eleitos para falar aqui. Esse é um tema que tem unificado a juventude de toda a coloração partidária, não só da esquerda, não são só as entidades do movimento social, inclusive as juventudes desses parlamentares que se posicionaram de forma ampla contra a redução da maioridade penal. Não foi só a segurança, teve deputado nos chamando de vagabundos, meu braço saiu vermelho de empurrões”.

A líder da Bancada na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), cobrou a abertura de inquérito pela Casa para investigar o ocorrido. “Considero que não podemos conduzir a relação do Congresso com a sociedade apurando uma única versão. Nós precisamos ouvir todos os lados, porque da mesma forma que nós não aceitamos agressão aos deputados e ao Parlamento, também não são aceitáveis agressões verbais de baixo calão dos parlamentares às representações estudantis”, declarou Jandira. 

Em razão do tumulto, os parlamentares decidiram deslocar a reunião da comissão para outro plenário da Câmara. Lá, os deputados fizeram um pedido de vista coletivo, o que adia a votação da proposta para a próxima quarta-feira (17). De acordo com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a votação deverá ocorrer em reunião fechada, sem acesso do público – não só na comissão especial, mas também no Plenário, que tem previsão de votar a proposta no dia 30 de junho.

Diversos estudantes já haviam enfrentado problemas para entrar na Câmara durante a manhã desta quarta-feira (10). Os jovens chegaram cedo para acompanhar as reuniões da Comissão de Educação e da Comissão de Comissão de Seguridade Social e Família, mas foram barrados na entrada. Eles só conseguiram adentrar na Casa depois que os deputados Wadson Ribeiro (PCdoB-MG), Jandira Feghali e Jô Moraes (PCdoB-MG) defenderam os jovens e seu direito à participação das audiências públicas.