Prestes a assumir a liderança do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE) fala sobre o cenário político, desafios e prioridades de sua gestão. A parlamentar assume a presidência nacional da legenda, após 13 anos de comando de Renato Rabelo. A sucessão ocorrerá durante a 10ª Conferência Nacional do partido, que será realizada em São Paulo, entre os dias 29 e 31 de maio. Confira trechos da entrevista de Luciana Santos ao Portal Vermelho.

O PCdoB organizou uma série de encontros regionais por conta da realização da 10ª Conferência Nacional para que os comunistas refletissem sobre a atual conjuntura. Como a senhora avalia esse processo em meio a um ambiente de disputa tão complexo?

Luciana Santos: Estamos diante de desafios gigantescos, exatamente, por conta da adversidade do momento. Saímos de uma eleição muito polarizada, na qual estava em disputa dois projetos antagônicos, um contra o Brasil e outro que já buscava analisar a conjuntura para dar conta dos desafios que se avizinhavam. Penso que já ali, no processo eleitoral, se revelou o que nós iríamos enfrentar. Ganhamos um pleito na defensiva política, de lá para cá ficou claro que a esquerda consequente, e as demais forças populares e progressistas do país, precisavam tomar as rédeas de uma ofensiva política.

Diante dessa realidade, o PCdoB aponta para a necessidade de se construir uma frente ampla para reagir a este momento. Uma frente que possua como lastro um projeto de Brasil cada vez mais pujante, que associa entre muitas bandeiras a defensa da democracia e ao mandato da presidenta Dilma; o combate à corrupção; a defesa da Petrobras, pela sua importância estratégica para o nosso desenvolvimento; e, por fim, as reformas democráticas e estruturantes, bandeira antiga do PCdoB e sem as quais não conseguiremos avançar nos ganhos até aqui alcançados. Nossa luta é por uma frente que seja capaz de aglutinar as forças necessárias para barrar a onda impulsionada pelo que chamamos de consórcio golpista que tem como projeto primeiro desmantelar o Estado e retirar direitos. De modo que nossa luta é contra o retrocesso e na defesa de cada conquista até aqui alcançada.

Com a sua indicação para a presidência, o partido já possui nome para a vice-presidência?

Luciana Santos: Vamos apresentar a indicação do camarada Walter Sorrentino para assumir a vice-presidência do nosso partido. Essa indicação foi discutida na Comissão Política. Nesses últimos 13 anos, ao lado do nosso presidente Renato Rabelo, Sorrentino teve um papel estratégico na Secretaria de Organização do PCdoB, ajudando de forma fundamental na formulação política e construção partidária. Além disso, forjou-se como uma figura de importante participação nas fileiras do partido durante toda a sua vida política. Uma figura que, além dos compromissos com a causa revolucionária, formula teoricamente e conhece muito bem o PCdoB. De modo que estará ao meu lado numa linha de complementariedade nos rumos e lutas do PCdoB.

O Brasil assiste um movimento singular em sua história, o qual computa ganhos e mudanças fundamentais, entre essas mudanças está o papel da mulher na luta na sociedade, que hoje se posiciona em novo patamar. A senhora é nordestina, mãe, parlamentar, é considerada a melhores prefeitas desse país e é indicada para assumir um partido, cuja história de luta se confunde com a história política do país. Isso é uma boa resposta ao machismo e a onda conservadora que toma conta do país nesse momento?

Luciana Santos: Não tenho dúvida disso. Uma das formas de enfrentamento da cultura machista são os símbolos e o PCdoB mais uma vez comprova seu papel na luta social e política ao reafirmar sua batalha contra o que há de mais conservador e retrógrado. Mesmo tendo sido criado em 1922, o nosso partido confirma seu caráter de renovação e entendimento do processo histórico, um partido aberto e sempre presente nas lutas mais candentes. Sinto-me muito honrada em assumir a liderança e, ao mesmo tempo, com um grande senso de responsabilidade dos desafios que teremos pela frente.