A 12º edição do Seminário LGBT do Congresso representa um espaço importante na busca pela igualdade de direitos em um momento como este, em que a sociedade enfrenta a propagação da cultura do ódio. O tema deste ano é “Nossa vida d@s outr@s – A empatia é a verdadeira revolução”, que promove a discussão sobre a falta de compreensão do sentimento alheio e o preocupante fato de muitos usarem as redes sociais para propagar preconceito e discriminação, principalmente em relação às “minorias” historicamente difamadas.

Apesar de ser um evento de livre participação, que trata de um assunto atual e de extrema importância para a população como um todo, não foi fácil de ser realizado. A deputada Luciana Santos (PCdoB-PE) enfatiza o esforço. “Vocês não imaginam o quanto foi dramático poder fazer valer um debate, um simples seminário sobre o assunto. Isso só revela o quanto nós temos aqui o reflexo e o rebatimento do preconceito, dessa coisa odiosa. Nós vimos saírem do armário preconceitos regionais de toda a natureza, que se espalharam de maneira ilimitada dentro dos meios de comunicação, por meio das redes sociais. Nós estamos discutindo a necessidade de se estabelecer a cultura da paz”. A parlamentar também é vice-presidente da Comissão de Cultura e membro da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, duas das comissões responsáveis pela realização do seminário, junto à da Legislação Participativa. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), um dos organizadores do evento, relatou que a Câmara se recusou a imprimir convites e distribuir e-mails pelos canais institucionais convocando participantes para o seminário. A deputada Erika Kokay (PT-DF), que é coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, também ressaltou a dificuldade, e mais, a necessidade de realizar o evento. “Este seminário só está acontecendo porque nós caminhamos nas brechas. Pelas brechas, muitas vezes, nós conseguimos respirar. Ele está acontecendo pra dizer àqueles que estão sentados nas cadeiras, que se pensam eternos, que esta casa não marchará segundo o som emitido nos tambores fundamentalistas e intolerantes que estão vivendo e convivendo com o poder legislativo”.

O primeiro dia do Seminário LGBT teve como convidadas especiais a cantora Daniela Mercury e sua esposa, a jornalista Malu Verçosa Mercury. O casal polemizou ao assumir publicamente seu relacionamento em 2013. A proporção que o fato tomou já mostra o quão desatualizada a sociedade está, ao não enxergar que a constituição da família independe de gênero. Infelizmente, essa visão é recorrente em todas as instâncias. “Estejamos juntos para lutar contra o ódio, porque ele gera violência. Isso é inaceitável. E é ainda mais inaceitável que dentro do Congresso brasileiro, onde todos deveriam estar lutando pela vida, tem gente criando mais ódio”, criticou a cantora. Em protesto a esse posicionamento retrógrado, Daniela e Malu beijaram-se durante o seminário. A deputada Luciana Santos enfatiza o sentimento do casal. “Vivemos um momento nesta casa que reflete esse ambiente político, de uma composição socioeconômica muito conservadora e muito retrógrada. Está na pauta do Congresso Nacional uma agenda que representa um retrocesso civilizacional. Se o Estatuto da Família passar, o Brasil retrocede décadas”. O Projeto de Lei (PL) 6583, de 2013, institui a criação do Estatuto da Família, em que “define-se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. O texto está sendo avaliado e discutido em comissão especial.

A programação do 12º Seminário LGBT do Congresso segue até o final da tarde desta quinta-feira (21) no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. As mesas terão como temas centrais a agressão além do verbo, a tolerância e o respeito às diferenças.