A Câmara dos Deputados entrará 2015 com um perfil mais conservador, segundo análise do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Os dados apontam a expressividade da bancada religiosa na Casa, com 52 deputados, assim como da bancada patronal, com 189. Na contramão, uma redução, de quase à metade, da bancada sindical, passando dos atuais 83 parlamentares para 46, sendo 14 novatos.

O aumento de militares, religiosos, ruralistas e outros segmentos mais identificados com o conservadorismo refletem, segundo o diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz, esse novo status. “O novo Congresso é, seguramente, o mais conservador do período pós-1964. As pessoas não sabem o que fazem as instituições e, se você não tem esse domínio, é trágico”, afirma.

O resultado das eleições do último domingo (5) foi uma surpresa para os parlamentares. Apesar das manifestações de junho de 2013, que pediam mudanças estruturais no país, e de todo o debate eleitoral ser permeado com propostas que dialogassem com as demandas da população nas ruas, o resultado do pleito trouxe para a política um perfil contrário. Jô Moraes (PCdoB-MG) se vê surpresa e preocupada com o resultado das urnas. “Que mudanças são essas? São mudanças que levam a um retrocesso da presença dos trabalhadores, que levam a um retrocesso para que nós garantamos a pauta dos trabalhadores, das minorias sociais e daqueles que querem ter inclusão?”, critica a parlamentar.

Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ), a criminalização da política nos últimos anos contribuiu para que a população não se interessasse pelo processo eleitoral deste ano. Só no Rio de Janeiro, lembrou a parlamentar, 40% da população não votou para deputado federal e 45% não escolheu o representante do Senado.

“Se, por um lado, junho de 2013 foi um marco histórico neste país, reunindo milhares nas ruas por melhorias na educação, saúde, no transporte público e contra a corrupção, também foi um momento aproveitado pela grande mídia brasileira para fazer uma grande propaganda antipolítica e contra a esquerda. Foi uma criminalização da política tão profunda, que fez com que muitos eleitores não conseguissem sequer prestar atenção ao horário eleitoral gratuito, não quisessem receber e ler os materiais de prestação de contas, de qualificação do seu próprio voto ou buscar o voto consciente, num processo que define a vida do Brasil”, afirma.

Segundo Jandira, muitas bandeiras trazidas pela sociedade nas manifestações de junho de 2013 terão dificuldades de avançar no Congresso em 2015, dado o conservadorismo de sua nova composição. “Isso é preocupante para a sociedade brasileira. Os parlamentares democratas progressistas, de esquerda ou não, precisam assumir as duas bandeiras estruturantes deste país, que é a reforma política e a reforma dos meios de comunicação”, reforça.

Gênero

O aumento de seis cadeiras para as mulheres na Câmara, de 45 para 51, não animou a deputada Jô Moraes, que é coordenadora da bancada feminina na Casa. “É um resultado decepcionante. Ele mostra que a política de inclusão das mulheres nas instâncias de poder está fadada ao fracasso, está falida. Nós fizemos um ano de campanha, articulamos com o Tribunal Superior Eleitoral, insistimos com os partidos políticos e trouxemos aqui apenas cinco deputadas. E quantas lideranças não foram reeleitas porque não tinham acesso ao dinheiro, porque não tinham acesso às máquinas eleitorais? É sempre assim, as mulheres só são lembradas pelos partidos políticos, quando é preciso, burocraticamente, cumprir a exigência de cotas”, avalia Jô Moraes.

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De Brasília, Christiane Peres e Tatiana Alves