O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, terá quer dar explicações no Congresso Nacional sobre metas monetárias, atuação política e possíveis conflitos de interesse. Ele foi nomeado ao cargo no governo Bolsonaro.

Para isso, o deputado Merlong Solano (PT-PI) deu entrada num requerimento de convocação dele na Comissão de Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) do Congresso Nacional.

O parlamentar vai cobrar do presidente do BC uma avaliação do cumprimento dos objetivos e metas das políticas monetárias, creditícia e cambial.

De acordo com Solano, já se passaram quase 180 dias, após o término do 2º semestre de 2023, sem que o dirigente preste esclarecimento sobre esses objetivos e seus impactos na economia. Ou seja, quase o dobro do tempo previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

O assunto envolvendo o jantar oferecido a ele pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também é um dos motivos da convocação.

Ao dar conselhos políticos e se oferecer para o cargo de ministro numa eventual candidatura do governador bolsonarista a presidente, Campos Neto demonstrou que age politicamente e não apenas de forma técnica.

O caso serviu para reforçar a crítica segundo a qual o presidente do BC  atua como sabotador da política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cobra constantemente uma queda acentuada dos juros da Taxa Selic.

“É o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político, e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, criticou Lula numa entrevista à CBN.

No rol da justificativa para a convocação ainda consta as declarações de Campos Neto discutindo seu futuro pós-BC, quando ele terá que cumprir quarentena de seis meses.

Uma das possiblidades seria abrir um banco blockchain no Brasil ou montar um fundo em parceria com instituições financeiras dos EUA.

“Sua relação proximidade com o setor financeiro e suas aspirações políticas podem levantar preocupações sobre conflitos de interesse, especialmente dada sua visão de Estado mínimo que favoreça a iniciativa privada, conforme expresso em uma homenagem recebida na Assembleia Legislativa de São Paulo”, explicou o deputado.

O parlamentar ainda lembrou da ação do subprocurador-geral do Ministério Público do Tribunal de Contas da União, Lucas Furtado, que ingressou com uma representação para que a corte apure a influência de bancos e instituições financeiras na definição de índices por parte do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Comportamento

No Congresso, parlamentares criticam o comportamento de Campos Neto. “O presidente do Banco Central nunca teve nada de independente ou técnico. Ele serve aos rentistas da Faria Lima e aos bolsonaristas, frequenta jantares da oposição ao governo e até se ‘candidatou’ a ser ministro da Fazenda da extrema-direita em 2026. Seu papel é manter os juros altos e atrapalhar a reconstrução do Brasil. Roberto Campos Neto aposta alto contra o povo brasileiro”, criticou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o presidente Lula falou as verdades que precisam ser ditas. “O Banco Central só é autônomo em relação aos interesses do país, mas é capturado pelo mercado financeiro. É uma herança maldita do bolsonarismo jogando contra o crescimento do Brasil. Chega!”, protestou.