Um dia depois de Bolsonaro afirmar a apoiadores que a esquerda prega a liberação de drogas, mas é contra o uso de ivermectina e cloroquina contra a Covid-19, o deputado bolsonarista Diego Garcia (Podemos-PR) decidiu tumultuar a sessão da comissão especial que debate o Projeto de Lei 399/15, que trata da legalização do cultivo no Brasil – exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais – da Cannabis sativa.

Diferentemente da cloroquina e da ivermectina no tratamento e prevenção da Covid-19, citadas pelo presidente e apoiadores, existem evidências científicas para o uso da maconha medicinal para algumas doenças. Uma revisão de estudos feita pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos em 2017 aponta que há evidências conclusivas de que a cannabis in natura e canabinoides reduzem sintomas em pacientes com dor crônica.

A mesma revisão aponta a efetividade de canabinoides para tratar sintomas de esclerose múltipla e náuseas e vômitos associados à quimioterapia. Também há estudos mostrando eficácia do canabidiol para alguns tipos de epilepsias graves. Existe também um medicamento à base de maconha aprovado no Brasil para tratamento dos sintomas de esclerose múltipla, o Mevatyl.

No entanto, para fazer valer a narrativa bolsonarista, Garcia decidiu partir para o ataque. Desta vez físico. Ao ter rejeitado um pedido de votação nominal de requerimento de adiamento de discussão, Garcia agrediu o presidente do colegiado, deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Garcia se aproximou da bancada, empurrou o laptop do petista e deu um empurrão no presidente da comissão. Teixeira continuou afirmando que a reunião continuaria, enquanto o deputado bolsonarista pedia respeito.

Membro do colegiado, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) afirmou que a tática bolsonarista era forma de impedir a votação do texto. “Eles querem inviabilizar a votação! Absurdo!”, destacou.

A reunião tinha como objetivo discutir o relatório do deputado Luciano Ducci (PSB-PR). Após o tumulto e pedido do relator para complementação de voto, a análise do parecer foi adiada e ainda não tem nova data para apreciação dos parlamentares.

A vice-líder da Minoria deputada Jandira Feghali (PCdoB-BA) estava presente na comissão e se solidarizou com Teixeira. “Minha solidariedade e apoio ao deputado Paulo Teixeira que foi covardemente agredido pelo deputado Diego Garcia enquanto fazia um trabalho correto e bom na presidência da Comissão Especial do Uso Medicinal da Cannabis. Absolutamente lamentável”, afirmou a parlamentar.

O vice-líder do PCdoB deputado Orlando Silva (SP) também se posicionou contra a agressão sofrida pelo petista. “Minha solidariedade ao amigo deputado Paulo Teixeira, vítima de odiosa agressão de um parlamentar que não é digno da citação do nome. Paulo Teixeira conduz seu trabalho com seriedade, merece respeito. O Congresso Nacional não é lugar para intolerância e violência”, destacou.