Gilse dedicou sua vida à luta por um mundo melhor e mais justo. Começou a se envolver com a política aos 16 anos, quando ingressou num colégio interno de freiras, onde ajudou a criar o grêmio estudantil. Foi quando conheceu a Juventude Estudantil Católica (JEC), um braço da Ação Popular. Sua atuação começou a extrapolar os muros da escola e seguiu pelas favelas da capital mineira trabalhando na alfabetização e politização dos trabalhadores.

Em 1964, passou em primeiro lugar para o curso de Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica de Minas, onde queria dar continuidade à militância estudantil e contato com a população pobre. Sua entrada na universidade coincidiu com a tomada do poder pelos militares e os tempos se tornaram perigosos. Gilse não se acovardou, pelo contrário, intensificou sua militância, fazendo parte do Diretório Acadêmico do seu curso e do Diretório Central dos Estudantes da universidade.

Na luta estudantil contra a ditadura, Gilse conheceu o amor que a acompanhou pelos próximos 20 anos e com Abel Rodrigues teve suas duas filhas, Juliana e Gilda. Neste período, com a prisão já decretada, o casal passou a viver na clandestinidade e sua primeira filha, Juliana, nasceu em 1968, junto com a instituição do Ato Institucional 5, que endureceu o comando das forças militares no poder.

Já no ano seguinte, os militares conseguiram executar sua prisão e Gilse foi levada direto para a “solitária”, onde passou a sofrer as piores torturas, quando os militares falavam para Gilse que estavam torturando também sua filha Juliana, que tinha 7 meses de vida.

Criada por Henfil

Felizmente, sua filha estava sendo criada e protegida pela sua irmã Gilda, que era casada com o cartunista Henfil. Gilse teve as primeiras notícias de Juliana quando foi transferida para o presídio em Juiz de Fora e depois de uma greve de fome, as presas conseguiram ter acesso a informações através de leituras de jornais diários. Nas tirinhas das charges de Henfil no Jornal do Brasil, a militante recebeu em mensagens cifradas as informações que o maior problema de Juliana era comer muito sorvete.

Após sofrer por dois anos as piores torturas e humilhações, Gilse foi libertada e passou a atuar novamente na clandestinidade. Junto com seu companheiro e sua filha, foi militar em São Paulo e soube que a Ação Popular estava sendo incorporada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Neste período, nasce sua segunda filha, que recebe o nome de Gilda em homenagem à irmã dela.

Passou a integrar a direção do Partido e foi deslocada de São Paulo para o Ceará com a tarefa de organizar os comunistas no Nordeste. Gilse cumpriu tarefa central na organização partidária e, mesmo na clandestinidade, conseguiu liderar um grande crescimento da ação dos comunistas, principalmente entre a juventude estudantil. Depois, passou a ocupar tarefa central na organização da luta das mulheres, sendo uma das fundadoras e presidenta da União Brasileira de Mulheres.

Volta para Minas

Na década de 90, mais uma mudança sob a orientação partidária. Chegara a hora de voltar a Minas para liderar a organização dos comunistas na capital mineira e Gilse passa a ser presidente do PCdoB de Belo Horizonte. Mais uma vez cumpre suas tarefas com brilhantismo e abnegação e conseguiu que a legenda elegesse dois vereadores e se torna uma das mais influentes na atuação popular.
Após anos de atuação, Gilse começou a enfrentar graves problemas de saúde, vencendo pela primeira vez um câncer que a abalou. Após uma cirurgia no final da década passada, conseguiu significativa melhora, mas as orientações médicas eram que deveria ter uma vida mais regrada. Mas Gilse não se continha e novamente estava já liderando novas ações.

De novo contra o golpe

Nos últimos tempos, envolvia-se nas lutas populares e no último ano na luta contra o golpe, o segundo que presenciou na vida. A comunista afirmava que essa etapa era mais difícil, pois a direita avançou num ataque feroz contra os direitos dos trabalhadores.
Mesmo com a saúde debilitada, Gilse estava presente em todas as atividades e passeatas. E quando não estava nas ruas, ficava entrincheirada atrás de um computador fazendo a luta virtual, atividade que a empolgava muito, descobrindo a cada dia as potencialidades que as novas formas de luta possibilitavam.
Gilse só parou de lutar por um mundo mais justo neste domingo, quando a morte venceu sua resistência. Mas seu exemplo de vida inspira novas gerações a continuar lutando contra as injustiças e arbitrariedades. Sua aparente fragilidade era apenas um disfarce de uma gigante lutadora. Era a expressão de um aço em forma de flor.