A saída de Marcelo Calero do Ministério da Cultura instalou uma verdadeira crise no governo de Michel Temer. Em depoimento dado à Polícia Federal, o ex-ministro envolve o próprio presidente e o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, no caso da obra em Salvador. Segundo Calero, eles haviam “intercedido em favor de Geddel”.

O depoimento levou ao pedido de demissão, na manhã desta sexta-feira (25), do “homem forte” de Temer. Por e-mail, Geddel pede “exoneração do honroso cargo”. Ele é o sexto ministro de Temer a cair desde que o peemedebista assumiu a Presidência da República.

Para os comunistas, a inclusão de Temer nas acusações torna sua continuidade no governo insustentável.

“A renúncia de Geddel não será capaz de sanar a grave crise em que se encontra o governo e a política no nosso país. Fica comprovado que no Palácio do Planalto existe um consórcio para a defesa de interesses pessoais. Se os fatos são graves o suficiente para tirar o ministro, também o são para tirar o presidente da República. Este governo está inviabilizado. Temer deveria sair do governo e permitir que o povo possa voltar a se posicionar a respeito da Presidência da República”, cobra o líder da Bancada do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA).

A líder da Minoria na Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), acredita que a saída de Geddel só reforça o crime de responsabilidade de Michel Temer. “A ação do ilegítimo junto de Calero em prol de Geddel na Bahia gera crime de responsabilidade real para um presidente. E ainda envolve Padilha, ministra da AGU. Isso revela um grande conluio no governo golpista em defender interesses privados, o que é inadmissível”, reforça. “O pedido de impeachment, com crime de responsabilidade comprovado, é o caminho mais formal. Porém, a melhor saída é Temer renunciar”, completa Jandira.

Ex-presidente da Comissão de Cultura, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) reforça o repúdio ao “modus operandi” do governo Temer. “Todo esse imbróglio mostra as entranhas e os métodos do governo ilegítimo. Lamentavelmente, o Brasil está achincalhado nos ambientes internacionais e encontra-se, neste momento, envolvido em um processo ilegítimo e desmoralizante na política. Espero que esta lição sirva de estímulo para o povo ir às ruas pedir eleições diretas e a saída de Temer.”

No Palácio do Planalto, no entanto, a renúncia não parece ser a opção, mas o de acordo com informações divulgadas pela imprensa, Michel Temer decidiu deixar para a próxima semana o anúncio do substituto de Geddel – tempo para se reunir com tucanos e demais aliados para tentar encontrar um nome que não esteja envolvido em escândalos.

A crise no núcleo do governo Temer teve início após Calero denunciar “pressão” feita por Geddel para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizasse a obra de um prédio de 30 andares numa região histórica de Salvador, nas imediações de monumentos tombados. O órgão havia embargado a obra e exigido que a construção tivesse somente 13 andares.