Depois do choro de Geddel Vieira Lima e das defesas feitas pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nesta quarta-feira (23), foi a vez da base aliada na Câmara se unir para impedir que o “homem forte” do governo Temer fosse convocado para esclarecer a denúncia feita pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que Geddel o teria pressionado para liberar a construção de um imóvel em Salvador (BA).

A obra havia sido embargada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por estar localizada numa área histórica, mas Geddel adquiriu um imóvel no edifício e queria a qualquer custo sua liberação. A pressão originou a demissão de Calero na última semana e foi motivo de diversos requerimentos na Comissão de Cultura da Câmara para esclarecer o fato.

No entanto, uma verdadeira tropa de choque foi acionada e todos os requerimentos – tanto de convocação e convite de Geddel, como os de convite para Calero e para os presidentes do Iphan nacional e regional da Bahia – foram rejeitados.

Para deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) ficou clara a intenção do governo de Michel Temer de blindar seu braço direito. “Houve um bate-cabeças no interior do governo golpista e seu homem forte foi colocado em maus lençóis. Isso chamou a atenção do Brasil, mas esse governo que tem se denominado um governo probo tenta impedir o esclarecimento da situação. O ministro está errado e deveria se desculpar, vir a esta Comissão, mas em vez disso, vem uma tropa de choque para blindá-lo, impedir que ele venha explica-se porque fez tráfico de influência”, comenta a parlamentar.

O argumento da base aliada de Temer é que já existe um processo para investigar a conduta de Geddel na Comissão de Ética Pública da Presidência, logo não seria necessário trazer o debate para o Parlamento.

Para a líder da Oposição, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), uma discussão não exclui a outra. “O fato da Comissão de Ética estar fazendo o seu papel, não retira o papel da Comissão de Cultura. Cabe a este colegiado apurar o que está acontecendo no Ministério. Se não querem Geddel, deveríamos, no mínimo trazer Calero. Aqui é o lugar para ele falar, pois a depender do seu depoimento precisaremos tomar providências para que não seja exercida nenhuma forma de influência lá”, afirma.

Com as convocações e convites frustrados, a alternativa encontrada pelos parlamentares da oposição foi convidar Marcelo Calero e os responsáveis pelo Iphan para participar de um debate informal realizado pela Comissão de Cultura denominado “Expresso 168”. A tentativa de ouvir o ministro, porém, foi sepultada pelos aliados de Temer.