Um governo de homens. Assim é o primeiro escalão das Pastas anunciadas pelo presidente interino Michel Temer (PMDB). É a primeira vez, desde Ernesto Geisel (1974-1979), que um presidente não inclui mulheres na Esplanada dos Ministérios. A falta de paridade de gênero vem gerando polêmica desde que o peemedebista assumiu a Presidência da República, na quinta-feira (12).

A representante do escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, criticou a ausência de mulheres nos novos ministérios.

“Não ter mulheres significa perder, pois metade da população não está representada, nesse governo, nessa junta executiva. A possibilidade de perdas de políticas públicas, dos avanços, da [possibilidade de] ir além do que normalmente está sendo visto por só uma parte da população, é muito grande”, advertiu Nadine, alertando para prejuízos com a ausência de paridade.

De acordo com ela, pesquisas mostram que a presença de mulheres nos governos e nos conselhos de administração das empresas privadas de, pelo menos 30% do corpo diretivo, significa ganhos de eficiência, de rentabilidade e de melhoria do ambiente de trabalho.

Com as mudanças políticas no Brasil, ela cobrou que políticas públicas não sejam interrompidas. No entanto, a nova formação ministerial não faz crer que haverá avanços em áreas como direitos humanos, políticas para as mulheres e igualdade racial – todas incorporadas ao recém-criado Ministério da Justiça e Cidadania, que estará aos cuidados de Alexandre de Moraes, advogado e jurista que ocupou o cargo de secretário de Segurança Pública de São Paulo no governo Alckmin e que tratou estudantes que protestavam por melhoria nas escolas a base de violência policial.

Para a deputada Angela Albino (PCdoB-SC), é "lamentável", que a maioria da população brasileira tenha sido desconsiderada da composição do governo interino de Temer. "Isso não acontecia desde a época da ditadura. É um retrocesso histórico, que refletirá, certamente, na construção de políticas públicas", critica.

Lúcia Xavier, da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras, endossa as críticas à extinção do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos. A ativista explica que a proposição de políticas para populações historicamente oprimidas vai além da garantia de justiça, envolvendo também áreas como educação, saúde e economia.

“A ideia dos ministérios específicos era transversal: eles tinham uma atuação em torno das interseccionalidades das opressões, para evitar discriminações e constituir pontes entre os direitos. Na Justiça, a secretaria fica legada a uma área técnica, como se esse fosse o único problema.”

Para ela, o que mais assusta neste processo, é Temer ter feito parte do governo Dilma e não ter compreendido que esse foi um processo de conquista da sociedade. “Não foi um partido que construiu esse processo, foi uma luta histórica das mulheres e dos negros por seus direitos.”

*Com agências.