Minutos antes de Dilma Rousseff abraçar manifestantes sob chuva de rosas, gritos, aplausos e sol intenso, lágrimas eram vistas nos rostos de servidores do Palácio do Planalto. Na manhã sombria marcada pelo golpe contra a democracia, a primeira mulher eleita presidente da República fez o último discurso antes do afastamento de até 180 dias determinado pelo Senado. Após 20 horas de sessão, a Casa decidiu dar andamento ao impeachment nesta quinta-feira (12).

“Há um inominável golpe de injustiça. Há a profunda dor da injustiça, a dor da traição”, confidenciou a presidenta que logo foi interrompida por manifestantes que bradavam “Fora Temer”.

Dezenas de parlamentares, representantes de entidades e movimentos sociais permaneciam ao lado de Dilma, que fez um breve balanço dos avanços econômicos e sociais alcançados por este projeto político ao logo de 13 anos. Entre as conquistas, programas como Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo.

Pouco antes do início do ato político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia saudado a multidão, causando alvoroço. “Lula, estamos contigo", "Força!” gritava a plateia. Entre as mulheres presentes, estava a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE). “Há dias que valem por uma vida. Hoje é um dia maculado pelo golpe à democracia brasileira. Karl Marx dizia que a história se repete como farsa ou tragédia. O que vimos foi uma oposição, derrotada nas urnas, não dar trégua, não permitir que a presidenta governasse o país. O povo vai para a rua vigiar e resistir ao pacote de maldades que vem pela frente. Voltaremos”, avalia Luciana.

Eram 9h22 quando o líder do PCdoB na Câmara chegou ao Palácio do Planalto acompanhado de integrantes da Bancada. Daniel Almeida (BA) prestou solidariedade aos manifestantes que resistiam contra o golpe. “É um dia triste que ficará marcado na história. Jamais vamos reconhecer governos ilegítimos que sabotam o voto popular. O governo Temer tenta resgatar uma agenda ultrapassada. A resistência continuará.”

Então vice-líder do governo, a deputada Jandira Feghali (RJ) criticou o fato de Dilma ser “arrancada” da cadeira de presidenta em meio a trevas que serão dissipadas com a luz da luta democrática para reverter essa situação. “Se vocês virem a foto do governo que entrou, é tenebrosa. A turma é cheia de denunciados na Lava Jato. Não tem nenhuma história de relação com o movimento avançado deste país. Não há nenhuma mulher. Foi uma posse isolada. Não havia ninguém. Essa imagem mostra, claramente, quem está ao lado do povo e quem está ao lado do golpe, do conspirador Temer.”