Depois de um processo marcado por ilegalidades na Câmara, a análise do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff chegou ao Senado já comprometida. Nesta terça-feira (26), na sessão de instalação da comissão especial que avaliará a admissibilidade do processo, os parlamentares confirmaram Raimundo Lira (PMDB-PB) na presidência do colegiado e Antonio Anastasia (PSDB-MG) na relatoria.

Na segunda-feira (25), a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) já havia apresentado uma Questão de Ordem, pedindo a suspeição de Anastasia como relator do processo. De acordo com o pedido, Flávio Henrique Costa Pereira, advogado que subscreve o pedido de afastamento de Dilma, é filiado ao PSDB e coordenador jurídico nacional da legenda, o que pelas regras da Casa, impossibilitaria qualquer tucano de julgar a admissibilidade do impeachment.

Para ela, a escolha, sobretudo da relatoria, demonstra que o processo já está contaminado. “Eles já vieram com tudo pronto, assim como foi na Câmara. Anastasia, como qualquer senador do PSDB, não tem a isenção necessária para o cargo”, critica.

O embasamento está previsto no artigo 127 do Regimento Interno do Senado e na Resolução número 20, de 1993, que institui o Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. Segundo o texto, “sempre que possível, se excluirá os membros do partido do representante e do representado”.

A argumentação, no entanto, foi ignorada. Para o líder da Bancada do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), Anastasia deveria se declarar impedido, uma vez que o PSDB tem posição declarada sobre o tema.
"É como colocar uma raposa cuidando do galinheiro. A comissão já nasce com esse vício. Espero que Raimundo Lira tenha a isenção que se espera de um presidente e não lance mão de manobras para prejudicar a presidenta Dilma", diz.

Apesar do cenário, Vanessa Grazziotin acredita que ainda é possível barrar o impeachment no Plenário do Senado. “Não há crime. Isso está claro. Eles querem tirar politicamente a presidenta, mas isso a democracia não admite.”

De acordo com o calendário estabelecido, a comissão especial ouvirá ainda esta semana a acusação e a defesa. A apresentação do relatório está prevista para o dia 04 de maio e a votação do texto para o dia 06. No Plenário do Senado, a votação deve acontecer entre os dias 11 e 12 de maio. Caso o Senado resolva abrir o processo contra a presidenta, Dilma será afastada do cargo por 180 dias ou até que o processo seja julgado.