Depois de mais de nove horas de debates e votação, a Câmara aprovou, neste domingo (17), a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff por 367 votos favoráveis e 137 contrários. O resultado do Plenário consolidou o golpe em curso, encabeçado pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). A Bancada Comunista esteve aguerrida na luta contra o impedimento de Dilma e considera “imoral e ilegítimo” o resultado na Casa. O julgamento, agora, segue para o Senado.

“Está se constituindo uma farsa. Esse julgamento é imoral, ilegítimo. Não aceitamos esse golpe. A luta contra o golpe vai seguir. Hoje foi a primeira batalha, mas há um longo processo no Senado e nas ruas”, afirma o líder do PCdoB, Daniel Almeida (BA).

Cinquenta e dois anos depois do golpe militar, desta vez, o Parlamento encabeça um golpe institucional, aprovando o impeachment de Dilma sem que ela tenha cometido qualquer crime de responsabilidade fiscal, como prevê a Constituição Federal.

Importante aliado do governo nesta articulação, o governador do Maranhão, Flávio Dino, acredita que o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF) devem agir com mais responsabilidade. “Não há razões para impeachment. Basta ouvir os votos dos deputados que autorizaram o processo. Nenhum apontou qual crime de responsabilidade foi cometido. Porque não existe”, diz Dino.

A votação foi marcada por falas em “nome de Deus e da família”, apontando o que já se evidenciava desde que o processo foi aceito pelo presidente da Câmara em 2015: que a abertura do impeachment na Casa já estava certa.

Para o deputado Rubens Pereira Jr (PCdoB-MA), apesar do resultado, é preciso seguir a articulação para tentar barrar o processo no Senado. “É hora de começarmos a pensar no amanhã. Com a mesma coragem, coerência e esperança, pois dias melhores virão.”

Antes da votação, o governo contava com o êxito de sua articulação e afirmava ter mais de 172 votos para barrar o impedimento de Dilma. Na prática, o compromisso não foi cumprido. Para Daniel Almeida, a votação deste domingo será lembrada na história do país. “Hoje é um dia que nós não vamos comemorar, mas vai ser lembrado na história, pois a democracia e a Constituição Federal estão sendo violentadas. Permaneceu a manobra, a pressão e o efeito manada. É um sentimento de profunda traição de alguns setores que assumiram compromisso e ficaram do outro lado. Mas nós estamos do lado certo. Do lado da democracia. Nosso partido agiu com coragem. Não levamos esta batalha, mas a luta continua.”

A presidente nacional do PCdoB votou contra o impedimento de Dilma depois que o resultado já estava consolidado, mas reafirmou a luta dos comunistas lembrando a letra de uma marchinha de carnaval e aqueles que foram mortos no regime militar, enquanto lutavam pela democracia. “A injustiça dói. Nós somos madeira de lei que cupim não rói. O PCdoB vota por aqueles que tombaram e pelos brasileiros e brasileiras que estão nas ruas. Vai ter luta”, conclui a parlamentar.