O famigerado golpe vem ficando cada dia mais claro. Manobras, vazamentos de áudios, cartas, coação de parlamentares e mudanças de regras têm dado o tom da empreitada da oposição contra o governo Dilma. Nesta terça-feira (12), no entanto, em um de seus discursos mais duros, Dilma repudiou a atitude de seu vice e classificou de traição a “aberta conspiração” para desestabilizar seu governo.

“Vivemos tempos estranhos. Tempos de golpe, farsa e traição. Utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração. Conspiram abertamente, a luz do dia, para desestabilizar uma presidenta legitimamente eleita. Ficou claro que existem dois chefes do golpe, que agem juntos no comando do golpe”, disse Dilma, durante ato com educadores, em referência ao acidental vazamento de Temer.

Na segunda-feira (11), antes que comissão do impeachment aprovasse o relatório de Jovair Arantes (PTB-GO), o vice-presidente da República deixou cair na rede um áudio de mais de 13 minutos onde ele comemora o resultado da votação. Na gravação, Temer se dirige a parlamentares do PMDB como se o impeachment já fosse fato consumado e dá as diretrizes do seu governo de “salvação nacional”.

Dilma, que até então vinha poupando seu parceiro de chapa, deixou clara sua insatisfação. Segundo ela, já não mais dúvidas sobre a existência de uma conspiração contra o seu governo. “Se havia alguma dúvida sobre a minha denúncia de que há um golpe de Estado em andamento, não pode haver mais. Os golpistas podem ter chefe e vice-chefe assumidos. Não sei direito qual é o chefe e o vice-chefe. Um deles é a mão não tão invisível assim que conduz com desvio de poder e abusos inimagináveis o processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse. Cai a máscara dos conspiradores. O Brasil e a democracia não merecem tamanha farsa”, disse.

O escorregão do vice de Dilma acirrou os ânimos e as disputas dentro do Planalto e do Congresso. Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), Temer se coloca como um dos principais conspiradores do país. “Numa atitude de traição, ele se associa ao golpe e ainda estabelece essa parceria com Cunha. Não é possível imaginar que saia algo legítimo dessa combinação”, criticou.