Passada a batalha na Comissão Especial do Impeachment, parlamentares comunistas estão mobilizados para barrar novas manobras do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O peemedebista tenta coagir o Plenário da Casa a aprovar o processo contra a presidenta Dilma Rousseff.

Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), o processo está viciado desde a origem e o resultado final será a preservação da democracia. Para tentar impedir a vitória do governo, Cunha lança mão de um “arsenal de chantagens” e quebra tradições da Casa com o objetivo de influenciar o voto de parlamentares, mesmo sem existir crime de responsabilidade.

Uma das artimanhas é fazer a votação final do impeachment no domingo (17), com o objetivo de garantir a transmissão ao vivo pela TV e manifestações em frente ao Congresso. Não existem precedentes, por exemplo, de sessões em domingos, a única exceção é a posse dos deputados. “Cunha tem dado declarações públicas de que vai manobrar. O debate na Casa foi todo orientado dessa forma. Ele convocou e cancelou sessões como queria, impedindo o funcionamento do Conselho de Ética e manifestações de deputados,” destaca Daniel Almeida.

Réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e com um processo de cassação que se arrasta por cinco meses no Conselho de Ética, o presidente da Câmara tenta desviar a atenção do país para escapar do julgamento popular. “Manobras e artimanhas desmascaram um golpe motivado por vingança em curso no Parlamento brasileiro”, aponta Alice Portugal (PCdoB-BA).

Opositores tentam preparar um cenário de constrangimento de deputados indecisos e da base governista para obter votos favoráveis ao impeachment. “Um golpe midiático, jurídico e legislativo”, diz Orlando Silva, vice-líder do governo na Câmara. 

Proibir a entrada de manifestantes favoráveis à Dilma durante a votação, restringir o acesso às galerias e até mesmo alterar a ordem das falas constam no roteiro do presidente da Câmara. Nos últimos dias, Cunha afirmou que irá “interpretar o regimento na hora" e acrescentou que pretende começar a votação por estados onde haja maioria pelo impedimento de Dilma, como os da região Sul do país. Nesta segunda-feira (11), o deputado Weverton Rocha (PDT-MA) acionou o STF, pedindo que a votação do impeachment no Plenário comece por um deputado do Norte.

Vale lembrar que é necessário o voto favorável de 342 parlamentares para que o processo seja remetido ao Senado. Isso representa dois terços dos 513 deputados. Adversário declarado do governo, Eduardo Cunha pretende fazer, no mínimo, duas chamadas para cada deputado. A intenção é aumentar a tensão e coagir quem estiver ao lado de Dilma.

Nas galerias acima do Plenário, geralmente abertas ao público, desta vez será possível avistar setores da grande mídia, além de familiares dos parlamentares, caso seja feita a vontade de Cunha. A capacidade de acomodação máxima de 250 pessoas serve para justificar a iniciativa. Esta medida ainda pode ser alterada e o espaço deve permanecer fechado à população.

Os grupos pró e contra ficarão de fora dos embates políticos durante a votação. Concentrados na Esplanada dos Ministérios serão divididos por uma imensa barreira construída ao longo do gramado. Já chamado de “muro da vergonha” por integrantes dos dois lados, as placas de ferro e grades devem servir à "segurança" de ambos. Um forte esquema de policiamento contará com a presença da Força Nacional de Segurança Pública, Polícia Militar do DF e Polícia Civil no final de semana. Cunha vai colocar telões também em frente ao Congresso.

Nesta terça-feira (12), o presidente da Câmara apresentou aos líderes o procedimento e as datas definidas para a votação do impeachment. Cunha afirma que usará seu direito de votar, o que, na prática, só deveria acontecer se houvesse empate.

Com início na sexta-feira (15), os debates se estendem até domingo (17). No primeiro dia serão feitas as inscrições a partir das 9 horas. Os autores da denúncia e a defesa de Dilma também terão seu tempo na sexta. Já as discussões se darão da maior para a menor bancada, sendo uma hora para cada, podendo falar até cinco indicados por partido. Os trabalhos serão retomados no sábado (11 horas) com o uso da tribuna pelos parlamentares inscritos. Domingo será o dia da votação que define se o processo vai ao Senado ou não. Os deputados serão chamados em ordem predefinida pelo presidente da Casa às 14 horas. Cada parlamentar terá 10 segundos para expressar seu voto.