A tarde desta terça-feira (29) foi marcada pelo anúncio relâmpago do PMDB sobre sua saída do governo Dilma. Aos brados de “Brasil pra frente, Temer presidente”, a legenda aprovou simbolicamente a moção que determina a entrega de todos os cargos no Executivo e a punição de quem desobedecer a resolução. A oficialização foi feita na Câmara dos Deputados, sob comando do vice-presidente do PMDB, o senador Romero Jucá (RR). 

Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), o PMDB continua dividido, já que algumas lideranças da legenda continuam alinhadas com o governo. No entanto, o parlamentar criticou a posição assumida pelo partido e por seu presidente, Michel Temer, vice na chapa de Dilma Rousseff.

“O PMDB nunca esteve integralmente neste projeto. Sempre teve uma parte dentro e outra atacando as ações, o projeto e o próprio governo. A partir desta decisão, o PMDB acaba se colocando como o condutor do golpe. E o Temer no papel de capitão desta quebra da normalidade democrática. Vê-lo nesta posição – sendo ele presidente do PMDB, parceiro na chapa da presidenta Dilma –, se colocando como solução para a crise é inaceitável. Que solução poderia vir dessa tentativa de chegar ao poder sem voto? Que legitimidade pode ter Michel? Com esse gesto, ele joga na lata do lixo sua trajetória política”, critica Daniel Almeida.

Segundo o parlamentar, é hora de o governo apresentar uma nova proposta ao país. “O PMDB continuará atuando como um partido dividido. Cabe ao governo, nesse momento, aproveitar a oportunidade para reconstruir sua base, apresentar algo novo. Mostrar para o país, para a sociedade, que a democracia precisa ser preservada e que a saída para o Brasil está na manutenção do mandato da presidenta Dilma e na condenação da atitude do vice-presidente, que quer assumir o poder sem voto, sem legitimidade.”

O divórcio entre PMDB e PT foi articulado pelo grupo do vice-presidente Michel Temer. E a decisão foi tomada após reunião realizada entre Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Eles, no entanto, não compareceram ao ato, assim como ministros peemedebistas e lideranças como José Sarney, Eduardo Paes e Sergio Cabral. A entrega dos cargos ocupados pela legenda em Brasília ficou para 12 de abril.

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), as ausências no ato peemedebista são simbólicas e demonstram uma posição esvaziada dos principais líderes nacionais da legenda. “Dividido e com uma reunião esvaziada de seus principais líderes nacionais, o PMDB se afasta do governo que integrou por 13 anos. Lamento que o centro dessa articulação seja a tentativa de acelerar o golpe”, diz.

Já o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE) ironizou a rapidez do anúncio da saída peemedebista. Para o parlamentar, “essa parte do PMDB está virando gozação”. “São como miojo? Mudam de opinião em três minutos? Felizmente, o povo tem consciência quanto a real situação, quanto aos verdadeiros motivos de tanto bombardeio em cima do governo. As forças conservadoras não aceitam que perderam a eleição de 2014 e tentam empurrar o golpe garganta abaixo do brasileiro, sob a cortina de fumaça do combate à corrupção."

Coincidência ou não, no mesmo dia do anúncio, Dilma decidiu cancelar a viagem que faria aos Estados Unidos na próxima quinta (31) para participar da 4ª Cúpula Sobre Segurança Nuclear, que acontecerá em Washington. Dessa forma, a presidenta evita que Temer sinta o gosto da presidência mais uma vez.