A atual legislatura na Câmara dos Deputados conta com 53 representantes do sexo feminino. Dessas, apenas três se autodeclaram negras. A baixa representatividade das mulheres negras foi um dos temas abordados, nesta terça-feira (17), durante comissão geral realizada para debater a realidade desta parcela da população. O encontro acontece na véspera da Marcha das Mulheres Negras, que pretende reunir mais de 20 mil mulheres na luta por igualdade, contra o racismo e pelo bem-viver.

“Temos que enxergar a vida política como um lugar de militância e de representatividade. A violência que assombra as mulheres assombra muito mais as mulheres negras. Precisamos mudar essa realidade e isso se faz com participação na política”, afirma a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes.

Olívia Santana, representante da União Nacional de Negros e Negras (Unegro), reforça a importância da presença da mulher negra no Parlamento para a formulação de políticas públicas. “Nós, negras, sabemos da importância da Lei Maria da Penha, porque somos as maiores vítimas. Mas não podemos ser apenas objeto das políticas públicas. Temos que ter a caneta na mão”, diz.

A líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ), lembrou da luta no Parlamento para tentar mudar a correlação de forças nas casas legislativas. Este ano, durante os debates e votações relacionados à reforma política, um dos temas abordados era uma reserva de vagas para mulheres. A ideia era mudar o cenário atual e garantir às mulheres, de forma gradativa, cadeiras em todas as casas legislativas – municipais, estaduais, distrital e federais – 10% nas próximas eleições; 12% nas eleições seguintes; e 16% nas que se seguirem.

“Essa é uma luta que ainda estamos travando. Mas ao olhar este Plenário hoje, cheio de mulheres, de mulheres negras, me arrepio de pensar com o dia em que poderemos chegar a essa equidade. Aqui, estamos falando de respeito, de valorização”, afirma Jandira.

Violência

Outro tema abordado no debate foi o elevado índice de violência contra as mulheres negras. De acordo com o Mapa da Violência, divulgado na última semana, entre 2003 e 2013, as agressões contra elas aumentou 54%; enquanto contra mulheres brancas, o número diminuiu 9,8%, no mesmo período. Leia também: Violência contra a mulher: o perigo pode estar ao lado

“Os dados são alarmantes. Não podemos mais permitir que esses números se repitam. Vamos marchar juntas contra todo esse retrocesso”, diz a deputada e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos (PE).

Marcha das Mulheres Negras

Nesta quarta-feira (18), mais de 20 mil mulheres devem tomar a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na luta por direitos, dignidade, respeito. Segundo a representante da Articulação de Organizações de Mulheres Negras, Jurema Pinto Werneck, um dos objetivos da Marcha das Mulheres Negras é combater o conservadorismo do Congresso Nacional.

Para ela, o país só irá para frente se conseguir eliminar o racismo e a violência. “O Congresso tem agido contra nós quando fomenta o ódio e a intolerância religiosa; tem atentado contra nossos corpos, nossos direitos e nossa autonomia”, critica.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) são inúmeros os motivos para marchar. “São as mulheres negras que acumulam os piores índices sociais no Brasil e ainda temos que lutar contra todas as pautas regressivas que se acumulam neste Parlamento”, afirma a parlamentar, em referência aos projetos de lei (PL) 5069/13, que dificulta o aborto em caso de estupro; 4330/04, da terceirização; PEC 171/93, que reduz a idade penal de 18 para 16 anos.

A Marcha sairá do ginásio Nilson Nelson às 9h30 e seguirá até a Esplanada dos Ministérios. A deputada Angela Albino (PCdoB-SC) acredita que a marcha será um marco no combate ao racismo e às violências de gênero.

“Entendemos esta marcha como um espaço importante para avançarmos na construção de políticas públicas capazes de criar condições mais iguais. Hoje, as mulheres negras morrem mais de parto que as brancas, chegam a ganhar muito menos do que as brancas, que, por sua vez, já ganham menos que os homens. Portanto, hoje, a condição da mulher negra na sociedade é das condições mais duras que temos que enfrentar. Por isso, vamos todas às ruas!”