Na última semana, economistas ligados ao PSDB ressuscitaram velhas teses para a retomada do crescimento do país durante o seminário Caminhos para o Brasil, realizado no dia 17. Entre os pontos defendidos por personagens como o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e a ex-diretora do BNDES no governo de Fernando Henrique Cardoso, Eliane Landau, estão as privatizações, o fim da política de valorização do salário mínimo, a revisão da estabilidade para funcionários públicos, mudanças na legislação trabalhista e o fim de todas as vinculações constitucionais obrigatórias.

Para a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), agora, a oposição aproveita o acirramento da disputa política para trazer à tona seu “projeto de país”.

“Eles não se conformam com o resultado da eleição. Em outubro tivemos um embate eleitoral que estava em xeque dois projetos de nação: um que acredita num Estado nacional forte e que promove a inclusão social; e outro que promove o Estado mínimo, a serviço dos interesses dos grandes grupos econômicos. Eles têm desejos inconfessos de destruir a nação brasileira e agora começam a colocar essas ideias para fora”, critica a parlamentar.

O economista e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, afirma que as propostas anunciadas agora fazem parte do mesmo receituário do final dos anos 1980. “Parte dessas propostas já foram até encaminhadas durante os governos do PSDB. Depois de 2002, essa agenda, de certa maneira, não foi aprovada pelas urnas, embora continue a haver uma campanha importante nos meios de comunicação, com críticas referentes ao Estado, buscando encontrar viabilidade para o retorno dessa pauta”, afirma o economista.

De acordo com ele, no quadro atual de crise econômica e enfraquecimento do governo, a direita encoraja o retorno desse discurso derrotado nas últimas quatro eleições. “Há um compromisso de fé [dos liberais] em acreditar que o Estado brasileiro segue sendo o problema do país. Mas a experiência que se acumulou, de 2002 para cá, mostra que o Estado não foi problema, pelo contrário, tem sido a solução. Vemos sinais de que é possível, através de políticas públicas, sobretudo, enfrentar os problemas que o Brasil acumulou historicamente, como desigualdade, desemprego, a questão da inclusão social”, defende.

Para o professor titular de Direito Econômico e Economia Política da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Gilberto Bercovici, a agenda tucana é um retrocesso.

“O que estamos vendo no Brasil é uma tentativa de certos grupos de retroceder, de reafirmarem que todos os recursos devem ficar com eles e não dividir com mais ninguém. E tem, obviamente, toda a força do poder econômico, do poder político e da mídia a seu favor. Cabe ao outro lado parar de achar que todo mundo é republicano e saber enfrentar, caso contrário, será uma derrota histórica e os efeitos nós ainda não temos dimensão.”