Em abril de 1972, algumas dezenas de homens e mulheres se embrenharam na mata às margens dos rios Araguaia e Tocantins, na divisa dos estados de Tocantins, Maranhão e Pará, numa região conhecida como Bico do Papagaio, para lutar por liberdade e pela democracia. De um lado estavam combatentes revolucionários, do outro militares da Marinha, Aeronáutica e Exército, num contingente próximo a 10 mil homens. O que seria uma guerra de guerrilha, de resistência ao regime militar imposto em 1964, transformou-se em um dos maiores massacres da história do país, uma ferida ainda aberta, que deixou muitos mortos e desaparecidos.

Quarenta e três anos depois do início da Guerrilha do Araguaia, os corpos ainda não foram encontrados, apesar de decisões da Justiça brasileira e de organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), determinarem que o governo deve obrigar as Forças Armadas a reconstituir o cenário da guerra e apontar o destino dos militantes, que representam metade de todos os ativistas desaparecidos durante a ditadura militar.

Na tentativa de mudar este quadro e reescrever o desfecho deste período da história brasileira, desde 2009 a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República vem realizando expedições na região com o intuito de encontrar os restos mortais dos militantes do Araguaia. Nesta segunda-feira (8), o governo federal retomou as buscas em Xambioá (TO) e em São Geraldo do Araguaia (PA) – cidades-sede de bases e acampamentos montados pelos militares entre 1972 e 1974.

O PCdoB – ainda clandestino à época – foi dos partidos que teve mais baixas na Guerrilha do Araguaia. Dos 69 militantes do Partido Comunista do Brasil que estavam na área, 59 morreram no conflito. Para a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que foi presa durante a ditadura e viveu anos no exílio, a ação da Secretaria de Direitos Humanos dá esperança às famílias dos militantes. “É um ato humanitário e absolutamente necessário para que o Brasil se encontre com sua história. Os familiares de todas as correntes políticas se sentem muito impactados com a inexistência dos corpos. No caso do PCdoB é quase fundamental, porque jovens guerrilheiros deram suas vidas e nós queremos fazer justiça a eles”, afirma.

“Politicamente, nós sabemos o que aconteceu. Vencemos a ditadura e temos lutado, desde então, para que o Brasil avance na liberdade democrática. Mas queremos chorar nossos combatentes. Só chegamos até aqui, porque muitos jovens tiveram coragem para enfrentar a ditadura, senão nós estávamos numa situação bem mais antidemocrática, como esta que estamos vendo ultimamente, que vem pedindo inclusive a volta do regime militar”, reforça o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), que também viveu as privações da ditadura militar.

As buscas serão feitas até o dia 19 de junho por uma equipe de peritos formada por geólogos, arqueólogos e antropólogos forenses, organizada pelo Grupo de Trabalho Araguaia, coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos, em parceria com os ministérios da Defesa e da Justiça. Outras duas expedições devem acontecer entre agosto e outubro deste ano.