Ao se contrapor às declarações do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, a presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional  da Câmara dos Deputados, Jô Moraes (PCdoB-MG), fez na quarta-feira (13) uma veemente defesa  da política externa brasileira, do Mercosul, dos diplomatas e dos chanceleres do país.  “Não é em vão que o Brasil está hoje presidindo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e tem uma posição de respeito no mundo”, afirmou.  “O Mercosul iniciou a sua estruturação em 1991 e está avançando nos seus múltiplos aspectos e na sua construção”. E “nossos chanceleres, por serem diplomatas de carreira, são profissionais, conceituados e respeitados, têm o respaldo do governo e do país”.

As afirmações  da parlamentar são uma resposta a Mangabeira Unger, que, em entrevista ao Jornal O Globo, defendeu uma revisão completa da política externa nacional; que o país deixe provisoriamente de ser uma união aduaneira, além de disparar contra a diplomacia nacional. Segundo o ministro, “não se pode confundir política externa com ação diplomática” e que “chanceleres diplomatas de carreira são uma anomalia no mundo”.

Veja a íntegra do discurso da parlamentar:

Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados,

 Venho a esta tribuna por estranhar e discordar das recentes declarações do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger.  Quero colocar como eixo, dois assuntos que ele traz à baila: O ministro pede a revisão completa da política externa brasileira e faz uma crítica absolutamente injusta, qual seja, a de que “nos acostumamos a ter diplomatas como chanceler, o que é uma anomalia em comparação a outros países,” segundo suas palavras.

     É preciso pontuar, Senhor  Presidente,  que a política externa brasileira vem assegurando uma posição de destaque e de respeito do Brasil no mundo. 

   Temos de lembrar, sempre, que não é em vão o fato de o Brasil estar hoje presidindo a Organização Mundial do Comércio, em um momento tão delicado da conjuntura mundial, onde uma crise se desenvolve e se espalha.
É evidente que nós chegamos a uma fase, não apenas da crise, mas de superação dos instrumentos criados pelo Acordo de Bretton Woods, de instituições que chegaram à sua superação.

  Nós vivemos em um mundo onde é preciso ampliar e estimular relações multilaterais — e é isso que o Brasil defende:  Que não se viva o mundo unipolar ou bipolar, mas o mundo multipolar, onde os Estados Unidos, a União Europeia, a Ásia, a América Latina e as diferentes áreas e regiões do planeta possam conviver com poder suficiente para que uma  não se sobreponha  à outra.
      Já superamos, nesse período, uma construção difícil de blocos regionais, como a União Europeia, que levou mais de 50 anos para se viabilizar e se constituir como um polo e uma alternativa econômica.  Há o esforço que estamos fazendo aqui no Brasil relativo ao Mercosul.

  O Mercosul  iniciou a sua estruturação em 1991 e está avançando nos seus múltiplos aspectos e na sua construção. Estranhamente, o Ministro coloca que é preciso rever esta questão do nosso bloco, tão estratégico para a geopolítica local e mundial, e ter relações bilaterais.  Ora, já existem essas relações bilaterais. E elas estão consolidadas.

     Por isso, eu quero concluir para respeitar o tempo, Senhor Presidente,  afirmando minha confiança e meu respeito  aos últimos Ministros de Relações Exteriores.  Ora, sabemos que  em certa medida,  há países que  concedem título de chanceleres a ministros, mas os nossos são diplomatas de carreira, então esta declaração é um equívoco.

  Por serem chanceleres, por serem da carreira diplomática, são profissionais conceituados e respeitados. Tiveram e têm o respaldo do Governo e do País, pois ele representam um  projeto de política interna, seguem as diretrizes governamentais . E é com esta tranquilidade que atuam e que os brasileiros os vêm.  A política externa é e sempre será uma política, uma decisão de governo. Era isto, Senhor Presidente.

Jô Moraes – deputada federal PCdoB-MG