Na caixa do correio, um comunicado endereçado a clientes VIPs do Banco Santander, aguardava ser aberto pelo destinatário. Era fim de julho, pouco mais de dois meses das eleições. O conteúdo no extrato bancário trazia um recado claro – e absurdo! – caso Dilma Rousseff voltasse a subir nas pesquisas eleitorais e ganhasse o pleito de outubro, um verdadeiro desastre econômico deveria ser esperado. “O câmbio voltaria a desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia”, descreve trecho do bilhete terrorista.

O caso poderia ser uma ficção de enredo fraco, mas ganhou a mídia no último dia 25 de julho, após denúncias de clientes escandalizados com a ação inescrupulosa do banco. Descoberta a “militância oposicionista”, a instituição financeira até pediu desculpas e demitiu alguns “responsáveis”, mas o estrago já estava feito.

A gravidade do ato, porém, não se redime com um mero pedido de desculpas. É inadmissível que qualquer instituição, ainda que tenha preferência eleitoral, pratique especulação, agrida a imagem do país e ponha em dúvida sua estabilidade. Lamentavelmente, não foi a primeira vez que isso aconteceu.

Desde a primeira eleição direta pós-ditadura ocorrem interpretações nesse sentido. Em 1989, o empresário Mário Amato deu uma entrevista dizendo que se o petista Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse naquele ano, 800 mil empresários deixariam o Brasil. Em 2002, agiotas do capital financeiro ficaram novamente “apreensivos” com a possível vitória de Lula.

O mesmo Santander, em 2002, segundo reportou o jornal Valor Econômico, já havia feito uma “recomendação negativa” sobre o Brasil, rebaixando os títulos do país. Dias depois da vitória de Lula, o próprio Emilio Botín, presidente do banco espanhol, procurou o metalúrgico-presidente e “esclareceu que ele mesmo ordenou a demissão do analista e o fechamento do escritório”. O Santander parece bom em tomar atitudes póstumas, mas recai sobre o mesmo erro repetidamente.

E é essa mesma ação desestabilizadora e terrorista dos banqueiros, que tem motivações econômicas e políticas – e de classe –, que está em pleno curso contra a reeleição da presidenta Dilma. Precisamos estar sempre atentos para não deixar as histórias se repetirem. Esse jogo não pode ter mais espaço numa sociedade que vem consolidando sua democracia. Ao difundir esse comunicado, o Santander explicita que os interesses do povo brasileiro não valem nada. Nega à maioria da população – que não está na categoria Select – seus direitos básicos, conquistados nos últimos 12 anos.

* Jandira Feghali é médica, deputada federal (PCdoB/RJ) e líder da bancada na Câmara.