Uma vez sim e outra também, a História nos mostra que a luta de classe incomoda. É como um cutucão nas elites abastadas, que se alimentam do abismo criado pelas desigualdades. Qualquer governo que acene com ações políticas que visem a redução desses contrastes enfrentará a ira daqueles que defendem o degrau intransponível entre classes. É questão de tempo. Forças como estas, que deram o tom em 1964, até hoje suspiram numa débil sobrevida.

Jango foi mártir de um processo que teve como justificativa sua predileção por reformas à esquerda, ditas "comunistas". Apoiado em temas mais próximos ao povo, combateu a contradição e lidou com a síncope imediata dos que eram contra. No famoso discurso da Central do Brasil, no Rio, quando sinalizou para reformas agrária e urbana, a classe média alta se viu profundamente agredida. Enquanto os ricos ansiavam por um levante militar que abafasse as reformas populares, os jornais anunciavam a morte de 5 milhões de crianças no Nordeste pela fome e pobreza.

É claro que conquistar a democracia não foi fácil, o que custou milhares de vidas de nossos militantes e colegas de resistência ao regime militar. Este último sempre impiedoso, ofensivo e covarde. Os guerrilheiros do Araguaia, por exemplo, tiveram a liderança dos dirigentes comunistas João Amazonas e Maurício Grabois, baluartes de um partido que sempre respirou ideias progressistas e populares. Era o sonho de dar voz e vez aos trabalhadores mais pobres, uma chance mais real às suas famílias. O PCdoB tem uma história que se confunde com a própria História do Brasil e de luta pela liberdade.
"Conquistar a democracia não foi fácil. Custou milhares de vidas a resistência ao regime militar"

Apesar do que se seguiu nos posteriores anos de chumbo e repressão, onde a censura fora violentamente empurrada garganta abaixo de todos os brasileiros, a criatividade manteve-se por perto. Face inteligente de nossa gente, manifestada de forma ousada na arte e na cultura, a crítica ao regime ainda pulsava dentro de todos nós. Foi assim na música, nas artes plásticas, no direito e na opinião jornalística, através de atores sociais presentes até hoje.

Com um dos olhos no passado (para que não se esqueça!) e a mente no futuro, seguimos hoje relembrando nossos heróis e desenhando um amanhã em que o povo seja contemplado cada vez mais pelo Estado. Hoje, o nosso duelo vai contra o que é atrasado e ceifador de direitos, através do debate de ideias, de forma honesta e com cara limpa, junto da coragem para assumir a convicção de que o caminho é pela esquerda. Condições somente possíveis num Brasil que vive as suas doces liberdades de expressão e da luta política.

Os 50 anos do golpe de 64 chegam mais do que uma triste memória, mas como um grande convite à renovação de nossas bandeiras políticas, reforçando metas e a energia necessária para promover mudanças através do Congresso Nacional.

Em retribuição a todos os inúmeros cidadãos brasileiros que deram suas vidas pela nossa democracia e liberdade, é nosso dever garantir que as desigualdades que confortam os mais ricos, os reacionários e a forças retrógradas sejam superadas de uma vez por todas.

Também reiteramos que se abram os arquivos secretos da Ditadura, julgando e punindo todos os crimes militares do período. Pela verdade e justiça!

*Médica, deputada federal (PCdoB/RJ) e líder da bancada na Câmara