Ligação do gabinete de Eduardo Bolsonaro à conta de ataques virtuais é criminosa, diz deputado
No dia em que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News foi tomada por discursos da base do governo contra o trabalho realizado pelo colegiado, uma reportagem publicada pelo portal UOL botou por água abaixo a retórica dos aliados de Bolsonaro. A matéria aponta que uma das páginas utilizadas para ataques virtuais e para estimular o ódio contra supostos adversários do presidente Jair Bolsonaro foi criada a partir de um computador localizado na Câmara dos Deputados, mais precisamente, no gabinete do filho 03, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
De acordo com a publicação, a página, chamada Bolsofeios, foi registrada a partir de um telefone utilizado pelo secretário parlamentar de Eduardo Bolsonaro, Eduardo Guimarães.
A quebra sigilo foi feita a partir de um pedido do deputado Túlio Gadelha (PDT-PE), com base em denúncias feitas pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), durante seu depoimento ao colegiado. Segundo informações enviadas pelo Facebook à CPMI, a conta bolso_feios foi feita no IP de um computador localizado dentro na Câmara e utiliza um e-mail de registro utilizado pela assessoria do filho do presidente da República para a compra de passagens e reserva de hotéis, por meio da cota parlamentar.
Para o vice-líder do PCdoB na Câmara, deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), o fato revelado pelo UOL é de “extrema gravidade” e deve ser levado ao Conselho de Ética da Câmara.
“Enquanto os deputados da base dizem que essa CPMI não tem razão de ser, que a Oposição está calada, ao contrário, hoje temos fatos concretos. O fato revelado hoje pelo UOL é de extrema gravidade. Foi instalada na Câmara dos Deputados uma central de operação de fake news. Isso não é algo de menor importância. A gente chega num ponto de envolvimento direto do deputado Bolsonaro, utilizando indevidamente o espaço da Câmara dos Deputados. Isso é uma atitude criminosa. Algo que precisa ser levado ao Conselho de Ética da Câmara e que tem que ser apurado pela própria Corregedoria da Casa”, afirmou.
Em depoimento à CPMI no final de 2019, Joice Hasselmann afirmou que a página Bolsofeios pertencia ao assessor do 03, Eduardo Guimarães. Ela também apresentou um grupo secreto que reunia páginas ligadas ao "gabinete do ódio", com a presença de Guimarães e o perfil bolsofeios. O grupo organizava um cronograma de ataques a pessoas consideradas inimigas da família.
Assim como Jerry, a líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), considerou gravíssima a revelação feita pelo portal. Para ela, é inadmissível o uso de dinheiro público e da estrutura da Câmara para “criar uma conta em rede social que ataca inúmeras pessoas, inclusive o presidente da Câmara, jornalistas, Supremo Tribunal Federal e adversários políticos da família Bolsonaro”.
Além dos ataques, a página conta ainda publicações convocando para as manifestações de março a favor do presidente e contra o Congresso e o STF.