Entre os nove governadores da Amazônia que se reuniram com Bolsonaro no Palácio do Planalto nesta terça-feira (27), além de Flávio Dino, o do Pará, Hélder Barbalho (MDB), pediu outro tipo de comportamento do presidente para que o país saia da crise.

Com objetivo de passar a ideia de que o desenvolvimento da região está sendo inviabilizado por causa da demarcação de terras indígenas, Bolsonaro cobrou posição de cada governador sobre os processos em tramitação na Presidência da República.

“Quilombolas em tramite final de demarcação na Amazônia legal são 936. Só de reservas indígenas estão na fase final 54 e daqui a alguns meses serão demarcadas 314”, criticou. “Só com isso que mostrei nosso agronegócio fica inviabilizado”.

Em relação a Emmanuel Macron, Bolsonaro lembrou que o francês defende a construção do direito internacional sobre o meio ambiente. “Ele baixou o tom, mas o objetivo é o mesmo”, disse, referindo-se a proposta do presidente francês de governança internacional sobre Amazônia.

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Augusto Heleno, chamou as atitudes do presidente francês de “molecagem”. Lembrou que nos países colonizados pela França só ficou rastro de destruição.

“Eu acho que nesse momento todos que estão aqui têm como único intuito encontrar soluções e dividir responsabilidades. Primeiro, acho que nós estamos perdendo muito tempo com Macron”, disse Hélder Barbalho.

Prosseguiu: “Temos que cuidar do nosso país e da vida. Nós estamos dando muita importância para esse tipo de comentário. Temos que cuidar dos problemas e sinalizar para o mundo a diplomacia ambiental que é fundamental para o agronegócio, porque se não vamos ter um prejuízo severo”.

Meio termo

Em entrevista exclusiva ao Vermelho, na saída do evento, Flávio Dino defendeu como melhor caminho o que ele chama de “meio termo”.

“Nós apresentamos nossa visão segundo a qual é possível desenvolver a Amazônia protegendo o meio ambiente. Uma visão, portanto, ponderada acerca dessa crise: busca de saída que partam do conceito de diálogo. E que várias posições sobre os caminhos para Amazônia puderam ser manifestadas. E nós esperamos que isso resulte no meio termo, no caminho que preserve o diálogo, seja na esfera internacional, seja na esfera interna”, argumentou.

Para ele, a superação da crise deve vir acompanhada de uma visão estratégica do problema. “O meio termo é a melhor receita. Extremismos nunca são adequados no enfrentamento de uma temática complexa como é a do meio ambiente”, defendeu, dirigindo-se a Bolsonaro.

“De modo que acho fundamental que façamos um discurso sempre ponderado, porque quando se salta uma faísca nos níveis hierárquicos mais alto, isso quando vai chegando ao chão da realidade pode ser transformado em incêndio”, prosseguiu.

Segundo o governador, a Constituição fixa parâmetros a serem seguidos: defesa da soberania; cooperação com outros povos; respeito aos direitos indígenas; as entidades privadas que atuam no Brasil na proteção do meio ambiente (ONGs); proteção da economia brasileira; garantia de que o país não seja exposto à sanção comercial; e que os produtores não sofram em razão de temáticas dessa natureza.

“Friso, portanto, que não é com postura puramente reativa que nós vamos sair dessa crise, de imagem aguda que o brasil se encontra. É preciso ter moderação”, concluiu.

Fundo Amazônia

Entre as propostas apresentada na reunião, Flávio Dino e outros governadores defenderam a retomada do Fundo Amazônia. “Nós não podemos abrir mão de recursos bilionários que fazem falta neste momento para que medidas sejam adotadas”, defendeu.

Dino lembrou que o fundo já trouxe muitos benefícios em favor da Amazônia e pode trazer outros. “Então não pode ser em razão de uma guerra ideológica e política que o fundo seja desprezado”.

Questionado se não houver um entendimento do governo federal com a Noruega e a Alemanha, principais doadores do programa, o governador disse que há a ideia de os governadores fazerem o acordo direto com os dois países. “Vamos retomar o debate no consórcio Amazônia”.

“É claro que há uma restrição fiscal aguda que o Brasil atravessa. As finanças públicas como nós sabemos duramente depreciada. E nós não podemos rasgar dinheiro, porque rasgar dinheiro não é algo sensato na atual conjuntura”, disse.

Outra proposta defendida pelo governador é um programa de cooperação de regularização fundiária e assistência técnica.