Às vésperas da votação pelo Plenário da Câmara da reserva de vagas para mulheres no Parlamento, as bancadas femininas da Câmara e do Senado realizaram um ato para reforçar o pleito. Na ocasião foi lançada a segunda edição da cartilha "+ Mulheres na Política". As parlamentares defendem que a reforma política em discussão contemple a proposta de uma cota mínima de 30% das cadeiras do Legislativo para as mulheres, mas para que seja aprovada, precisa de 308 votos. O item deve ser o primeiro a ser apreciado na sessão desta terça-feira (16), conforme acordo estabelecido na reunião de líderes.

Hoje, as mulheres ocupam 9,9% das vagas da Câmara dos Deputados,com 51 deputadas. Segundo levantamento apontado na cartilha, se a cota tivesse sido usada nas últimas eleições, o percentual subiria para 16%. O documento aponta ainda que a reserva de cadeiras nas casas legislativas já acontece em vários países, como Afeganistão, Bangladesh, China, Eritreia, Jordânia e Quênia.

A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, afirmou que o governo federal apoia as cotas para mulheres. “Se queremos uma democracia efetiva no país, as mulheres têm que estar devidamente representadas no Parlamento.”

“Nós, mulheres, não podemos ficar sem direito à voz. Só tivemos direito a voto no Brasil a partir de 1932. Sabemos que o processo de confinamento da mulher brasileira levou a esta condição de, infelizmente, retardar o nosso processo de participação na política. Mas estamos aqui. Somos poucas, mas somos ruidosas e com este estudo vamos fazer ainda mais barulho”, diz Alice Portugal.

Para a representante da ONU Mulheres, Nadine Gasman, a votação de hoje representa uma oportunidade histórica para o Parlamento. “Os deputados têm que escutar o que a população brasileira está dizendo nas pesquisas: 71% quer mais mulheres na política”, diz.

Já a nova presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, o que está em discussão é a “democratização da democracia”. Para ela, é preciso de medidas efetivas para garantir a participação feminina no Parlamento. “A gente quer acesso ao Fundo Partidário, ao tempo de rádio e de TV, só assim vamos ocupar de fato os espaços da política.”

Na visão da ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luciana Christina Guimarães Lóssio, o Brasil está muito atrasado na discussão do assunto. Ela ressaltou que seis países da América Latina têm cotas de 50% de mulheres nas candidaturas. “Esse é o futuro”, afirma. “Na Alemanha, a representação feminina no Parlamento já chega a 40%.”

Ex-coordenadora da bancada feminina da Câmara, a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), afirma que a inclusão da mulher na política não pode ser vista apenas como direito, mas como parte essencial da construção democrática. A parlamentar, que hoje preside  a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, está em missão oficial na França, mas reforçou seu compromisso com a luta por mais mulheres na política em suas redes sociais.  “Esta semana é decisiva. É preciso constitucionalizar a presença da mulher na política. Sabemos que a caminhada é lenta, mas já será uma conquista histórica”, registra a parlamentar.