CPMI ouve ruralista apontado como um dos supostos financiadores do 8/1
Conhecido como o “pai da soja”, o ruralista Argino Bedin foi apontado nesta terça-feira (3), durante oitiva da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos golpistas do 8/1, a CPMI do Golpe, como um militante bolsonarista financiador dos atos e da ação de bloqueio das estradas.
Antes da votação do relatório final que será apresentado no dia 17, a CPMI só terá mais um depoimento na próxima quinta-feira (5).
Bedin, que atua em Sorriso (MT), usou o direito de se calar para evitar autoincriminação, conforme habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas isso não evitou que os parlamentares traçassem seu perfil golpistas.
Na posse de um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a relatora Luziane Gama (PSD-MA), revelou que o ruralista está na relação dos empresários financiadores do 8/1.
“Esse relatório da Abin aponta 272 caminhões que foram direcionados para cá, dos quais, 72 caminhões vieram da cidade de Sorriso, da sua cidade”, disse a relatora, revelando que cinco veículos eram do empresário e mais 11 de seus familiares.
Eliziane disse que teve acesso a uma série de alertas e relatórios que foram emitidos pela Abin sobre bloqueios em rodovias de todo o Brasil.
“No dia 5 de novembro, a Abin faz um alerta de que 180 caminhões originados da cidade de Sorriso já estavam se direcionando para Brasília. No dia 19 de novembro, houve tentativa de explosão da BR-174 em Comodoro, em Mato Grosso, com a intenção de danificar a rodovia, destruindo um duto que passa sob o trecho”, revelou.
A relatora também apontou transações financeiras suspeitas. Um relatório de inteligência financeira (RIFs), que se encontra na CPMI, revelou que o grupo Bedin recebeu R$ 4 milhões do grupo BMP Participações, ligado a empresário e fazendeiro de Sinop (MT) e ligado ao PL, partido de Bolsonaro.
“No RIF de Bedin, há uma transferência de R$ 86 mil ao PL, mas não há esse registro no Tribunal Superior Eleitoral, claramente uma transferência não declarada à Justiça Eleitoral”, explicou Eliziane.
Intervenção
Após exibição de um vídeo, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) observou que os caminhões que saiam de Sorriso estavam com faixas nos vidros com a frase: “intervenção federal já”.
“Essa é a reivindicação desses caminhões que saíram da terra dele, Sorriso, e se juntaram a outros tantos, até porque foi dessa região que a grande maioria dos caminhões saíram”, disse a deputada.
A líder do PCdoB na Câmara (foto acima) lembrou que o ruralista concedeu entrevista apoiando a ditadura militar de 1964.
“Quem não gosta de ditadura é quem não gosta de tortura, quem não gosta de violência ao Estado democrático de direito, quem não gosta de morte de pessoas que lutavam pela liberdade e que até hoje estão desaparecidas, para o choro e a dor das famílias que perderam seus entes queridos”, afirmou.
Para ela, foi muito importante a presença de um financiador na CPMI, representando um conjunto de financiadores dos atos antidemocráticos.
“Porque eles têm que ser absolutamente responsabilizados por tudo o que aconteceu de atos golpistas, criminosos, ilegais que deram, como consequência, à população, consequências gravíssimas, e que sustentaram o dia 8 de janeiro, com a parceria, no governo anterior, da Polícia Rodoviária Federal”, afirmou.