Comissão da Modernização do Futebol repudia racismo contra Vini Jr
A Subcomissão Especial da Modernização do Futebol aprovou nesta terça-feira (23), uma nota de repúdio aos ataques racistas sofridos pelo jogador brasileiro Vinícius Jr na Espanha. No último domingo (21), durante partida entre Real Madrid e Valencia, o jogador voltou a ser ofendido pelos torcedores.
Para os parlamentares da subcomissão, o ataque não é caso isolado e deve ser duramente combatido. No documento, os deputados afirmam que o futebol, dentro e fora de campo, deve ser tratado com seriedade e respeito aos jogadores e torcedores. “Um dos maiores patrimônios culturais do Brasil não pode ser ambiente hostil, onde imperam o racismo, a intolerância e a impunidade”, pontuam os parlamentares na nota.
O presidente da Subcomissão, deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE), afirmou que ataques racistas no futebol têm sido frequentes e que é preciso combate-los com urgência.
“É necessário intensificarmos o combate ao racismo. Não basta não ser racista, é necessário ser antirracista. Esse episódio da Espanha choca o mundo pela falta de atitude, de enfrentamento. Nós somos um país muito forte no esporte, especialmente, no futebol. Somos o país que mais venceu Copas do Mundo. Somos o país de Zé Maria, de Brito, Everaldo, Jairzinho, Pelé, Edu, Paulo Cézar, somos o Brasil de Vinícius Jr. Abaixo ao racismo”, afirmou.
Renildo Calheiros lembrou ainda que a Lei Geral do Esporte (PL 1825/2022), aprovada no Senado no dia 9 de maio, prevê a criação da Autoridade Nacional para Prevenção e Combate à Violência e à Discriminação no Esporte (Anesporte), com o objetivo de formular e executar políticas públicas contra a violência, racismo, xenofobia, homofobia e intolerância em todos os esportes.
O caso e a reação do governo brasileiro
Vini Jr foi alvo de insultos racistas na derrota do Real Madrid por 1 a 0 para o Valencia, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol. Era possível ouvir gritos de “mono” (macaco, em espanhol) no estádio.
O caso de racismo envolvendo o jogador brasileiro provocou reação inédita do governo do Brasil em relação a um atleta que joga fora do país. Já no domingo à noite (21), o presidente Lula se manifestou sobre o caso. Ele começou o pronunciamento sobre a viagem ao Japão manifestando apoio ao jogador e cobrando providências contra o racismo no futebol. Lula pediu ações da Fifa e da Liga Espanhola para que cessem o preconceito.
“Penso que é importante que a Fifa, a Liga Espanhola e as ligas de outros países tomem sérias providências, porque não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dentro do estádio de futebol”, declarou o presidente.
Diversos ministros também se pronunciaram sobre o caso. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o caso é “deplorável, inaceitável e deve ter consequências”, uma vez que o Ministério da Justiça pode recorrer ao dispositivo da “extraterritorialidade”, previsto no Código Penal, para aplicar a lei brasileira em casos de crimes cometidos contra brasileiros no exterior.
Já a ministra Anielle Franco, do Ministério da Igualdade Racial, afirmou que o governo brasileiro acionou o Ministério Público da Espanha contra a Primeira Divisão da Liga de Futebol Profissional, conhecida como La Liga.
Em nota conjunta, pelo menos cinco ministérios pedem providências por parte do governo espanhol, de entidades esportivas daquele país e da própria Fifa.
“Tendo em conta a gravidade dos fatos e a ocorrência de mais um inadmissível episódio, em jogo realizado ontem, naquele país, o governo brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo. Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à Fifa, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”, diz a nota.
A ministra dos Esportes, Ana Moser, se disse “indignada e revoltada” com o caso. “Vamos trabalhar com o governo espanhol para que crimes de racismo sejam severamente punidos”, afirmou.
O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, também se manifestou e ressaltou que “a La Liga, as entidades europeias de futebol, a Fifa, os clubes, as empresas patrocinadoras, parte da imprensa e os governos estão sendo coniventes e se servindo do racismo. Devem, por isso, ser chamados à responsabilidade, juntamente com os agressores diretos”.
O Ministério das Relações Exteriores também vai chamar a embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios, para cobrar uma posição ante os atos criminosos contra o atleta.