A imagem dos corpos enfileirados, estendidos numa lona na Praça da Penha, na zona Norte do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira (29), é o retrato da falência da política de segurança do Rio de Janeiro. São mais de 100 vítimas da Operação Contenção, realizada na terça-feira (28), pelas polícias Civil e Militar do Rio, nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense.

“Estamos cansados de acompanhar chacinas no Rio. A política de segurança do Rio é a chacina. Quanto mais inteligência, menos tiro. O pior, é vermos Castro usar o medo e a dor para fazer política eleitoral. É um governo com baixa popularidade, que quer criar um fato que tem apelo no senso comum. Então, faz uma chacina, dizendo que todo mundo ali é bandido, num país que não tem pena de morte. Isso é um planejamento eleitoral claro. São mais de mandados de busca e apreensão no Rio, porque cumpriu esse apenas e dessa forma? O governo federal sequer foi avisado”, declarou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) durante coletiva na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (29).

A megaoperação, que já é a mais letal da história do Rio, mobilizou cerca de 2,5 mil agentes das forças estaduais de segurança e tinha o objetivo de combater a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) e cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes e lideranças criminosas do CV. No entanto, o que se viu foi uma verdadeira chacina.

Megaoperação já é a mais letal da história do Rio. Foto: Reprodução SBT

Para Jandira, é fundamental que os parlamentares estejam in loco, acompanhando o caso. “O governo do estado deveria, inclusive, ser o foco dessa investigação”, declarou. Para ela, é preciso que o combate ao crime organizado se dê de forma ousada, com inteligência, planejamento e com combate direto ao financiamento das organizações criminosas.

“Nós queremos o combate ao crime organizado, mas com investigação, inteligência, planejamento. Deve ser de forma integrada, firme, ousada. Menos tiro, menos morte e um torniquete claro ao financiamento dessas organizações, que é o governo do estado do Rio não faz. Nenhum crime organizado se espalha, como aconteceu no Rio de Janeiro, sem a permissividade do governo do estado”, declarou Jandira.

Durante a entrevista coletiva, realizada em Brasília, deputados do campo progressista, além de repudiarem a megaoperação autorizada pelo governador do Rio, Cláudio Castro, defenderam a aprovação da PEC da Segurança Pública, enviada pelo governo Lula e que tem tido resistência dos partidos da direita, como o de Castro, o PL; e cobraram a criação de uma Comissão Externa da Câmara para acompanhar o caso.

De acordo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Reimont (PT-RJ), os parlamentares farão uma diligência na quinta-feira (30) nos complexos do Alemão e da Penha, vão ao Instituto Médico Legal (IML) e terão reuniões com o defensor público do Rio de Janeiro e com o procurador-geral de Justiça do estado, além de encontro com membros dos movimentos de direitos humanos.

Os parlamentares lamentaram as mortes e manifestaram solidariedade às famílias das vítimas. Para esse grupo, as operações policiais deveriam ter foco na inteligência. Como exemplo, mencionaram apreensões de drogas da Polícia Federal no Rio, que ocorreram sem fatalidades. Em 2025, a Polícia Federal realizou 24 operações contra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, apreendendo 190 armas e 60 prisões sem matar ninguém.

“A atitude desse governador é criminosa e ele mentiu do começo ao fim”, disse Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara, que defendeu a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e anunciou que irá judicializar a megaoperação.

A violência desta semana, reacendeu o debate sobre a PEC da Segurança Pública. O projeto do governo está estacionado em uma comissão especial na Câmara e, segundo o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), deverá ser votado até o final do ano. O foco do texto é articular uma atuação integrada entre estados e o governo federal.

Esse trecho, no entanto, foi boicotado por governadores de direita ao longo do ano, inclusive pelo próprio Cláudio Castro, que criticou a “perda de autonomia” dos governos estaduais na definição de sua própria política de segurança.