Os incêndios florestais cresceram de forma assustadora no País ao longo de 2020, atingindo quase todos os biomas brasileiros. Entre as áreas mais afetadas pela devastação causada pelas queimadas nas últimas semanas estão a Amazônia e o Pantanal, regiões consideradas pela Unesco — Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura — como Patrimônio Natural da Humanidade.

Porém, apesar da importância estratégica que os dois biomas representam para o País, o governo federal insiste na postura negacionista que adotou desde o início da atual gestão e tenta transferir a culpa do desgaste provocado pela tragédia ambiental aos órgãos responsáveis pelo monitoramento dos biomas brasileiros.

Enquanto o fogo consome a vegetação e promove uma devastação jamais vista, o presidente Bolsonaro afirmou que há "críticas desproporcionais à Amazônia e ao Pantanal". O vice-presidente da República e chefe do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão, afirmou que funcionários do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) fazem oposição ao governo federal e reclamou que dados positivos sobre a diminuição de focos de queimadas não são divulgados pela órgão.

Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alegou que a explosão de queimadas no Pantanal se deve à falta de manejo de fogo nos dois últimos anos. Ele afirmou, sem apresentar elementos para comprovar sua tese, que o manejo não teria ocorrido por questões ideológicas. "Por questões ideológicas, por questões administrativas, não se permitiu lá no Pantanal que eles fizessem o manejo adequado do fogo no momento correto. Juntou muito material orgânico, então, quando pega fogo, pega fogo de maneira descontrolada", disse.

"O fogo que queima a Amazônia e o Pantanal são criminosos, parte de um projeto de governo que despreza o meio ambiente", denunciou a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC). Em suas redes sociais, a parlamentar advertiu que o descaso do governo no enfrentamento da situação expõe os setores produtivos que trabalham com seriedade no País e estão sendo prejudicados com os boicotes internacionais à pecuária e à produção nacional.

Segundo a deputada, o fogo que vem devastando amplas áreas de preservação ambiental "não está queimando apenas nossas florestas e animais, nossa identidade e nosso futuro também estão queimando". "Os incêndios que assolam o Pantanal há dois meses são os maiores da história. Uma tragédia devastadora para um dos biomas até então mais preservados do País", observou.

Perpétua lembrou ainda que na Amazônia, especialmente no estado do Acre, por falta de apoio dos governos federal e estadual pequenos produtores não têm acesso a tecnologias modernas de mecanização agrícola e acabam sendo obrigados a recorrer ao fogo para viabilizar o cultivo de suas lavouras.

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) afirmou que o descaso do presidente da República e do ministro Ricardo Salles com tudo que está acontecendo provoca extrema indignação. "As florestas e o Pantanal estão morrendo e Bolsonaro e seu ministro estão de braços cruzados vendo a fauna e flora pegarem fogo. É um absurdo!", escreveu em sua conta no Twitter.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), o governo Bolsonaro já pode ser considerado "o mais desastroso da história da política ambiental brasileira". A parlamentar também usou suas redes sociais para criticar a falta de ação do Executivo frente ao desastre ambiental: "Lamentável ver os nossos biomas ardendo em chamas".

Natureza em chamas

Os dados do Inpe mostram que 133.974 focos de incêndio foram registrados em todo País entre 1º de janeiro e 14 de setembro, um aumento de 13% em relação ao ano passado.

Só no Pantanal, os incêndios aumentaram 210% neste ano em comparação com o mesmo período de 2019, segundo o Inpe. Entre 1º de janeiro e 12 de setembro, o número de focos de calor chegou a 14.489, contra 4.660 em 2019. Esse já é o ano com o maior índice de queimadas para o bioma. O recorde anterior era de 2005.

A Amazônia também está vivendo mais um período crítico de queimadas. Nos 14 primeiros dias deste mês, o bioma já tinha mais queimadas do que em todo setembro do ano passado. Até o dia 16, já foram registrados 23.277 focos de calor na Amazônia.

O bioma teve ainda um agosto de fogo tão grave e provavelmente pior do que o registrado em 2019, ano marcado por pesadas críticas internacionais à política ambiental do governo Bolsonaro.