A conferência climática da ONU, a COP-25 acabou no último domingo (15), sem regulamentar o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata sobre a criação de um mercado de carbono para incentivar ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O Brasil foi o principal bloqueador do consenso.

Chefe da delegação brasileira na COP, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, usou as reuniões bilaterais com países desenvolvidos para pedir dinheiro ao Brasil, como contrapartida para desbloquear a negociação, segundo informações publicadas pelo jornal Folha S.Paulo. Mensagens trocadas entre negociadores de diferentes países qualificaram a tática brasileira como uma ‘chantagem imatura’. O Brasil também se opôs, de forma inédita, à inclusão das conclusões científicas no texto final da conferência, mas acabou cedendo ao final.

Para o líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), o governo brasileiro preferiu com a imagem de incendiador da Amazônia.

“Houve um vexame produzido pela participação do governo brasileiro. O Brasil, que sempre foi protagonista em políticas para a preservação do meio ambiente, para o equilíbrio ambiental, para a combinação da atividade produtiva com a preservação ambiental, um elemento fundamental para a imagem de qualquer país, preferiu ficar com a imagem de país das queimadas, que incendeia a Amazônia, de um país que não cuida do ambiente, que tem desprezo pelas relações internacionais”, disse em discurso na Câmara.

Segundo o parlamentar, o governo de Jair Bolsonaro “não tem demostrado nenhuma aptidão para fazer com que o país tenha papel relevante no mundo”. “Já estamos cansados de passar vergonha em função da posição desse governo”, afirmou Almeida.

O Brasil sai da COP-25 apontado por observadores das negociações como um dos vilões da conferência, junto aos Estados Unidos, Austrália e Arábia Saudita. A presidência chilena também foi criticada.

Em 2020, a implementação do Acordo de Paris começará a ser cobrada das nações signatárias. As metas nacionais apresentadas pelos países em 2015, na assinatura do Acordo, ainda levariam o mundo a um cenário de aquecimento global médio de 2,9°C.

A meta do acordo climático é restringir o aumento da temperatura entre 1,5°C e 2°C. Atualmente, o mundo já aqueceu em média 1°C em relação aos níveis pré-industriais.

No ano que vem, os países devem apresentar uma atualização das suas metas nacionais do Acordo de Paris, já obedecendo à regulamentação que foi criada de 2015 para cá.

O clima de frustração gerado pela falta de consenso na COP-25 aumenta a cobrança feita por cientistas, ativistas climáticos, empresas ligadas a modelos econômicos de baixo carbono e também pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.