Hoje apenas 28% dos pesquisadores no mundo são mulheres. Além disso, há uma baixa participação e reconhecimento em premiações como o Nobel, por exemplo, em que apenas 3% são indicadas nas áreas científicas.

“A mulher é sempre instada a escolher entre a maternidade ou a ciência, entre a política ou a ciência. Com a expectativa de ajudar a impulsionar a mulher brasileira no processo do protagonismo científico, político e em todas as áreas onde ela queira estar, realizei esta audiência com a presença de grandes pesquisadoras, que muito contribuíram com o debate”, disse Alice, que é autora da Lei 13.536/2017, que prevê a prorrogação da bolsa para pós-graduandas que derem à luz, adotarem crianças ou obtiverem a guarda judicial de crianças para fins de adoção.

Presente na audiência, a presidente do Instituto Gonçalo Moniz/Fiocruz Bahia, Marilda de Souza, destacou que a mulher pesquisadora enfrenta obstáculos a cada dia e que continua a ser excluída na ciência. Estudos realizados em 14 países apontaram que a probabilidade da mulher de se formar em bacharelado, mestrado e doutorado na área de ciências é de 18%, 8% e 2%, respectivamente, enquanto do homem é 37%, 18% e 6%. “Precisamos fortalecer este debate para ampliarmos a participação da mulher na ciência. Uma mulher no poder pode mudar o mundo”, disse Marilda, que é a primeira mulher a ocupar a presidência da Fiocruz Bahia. Ela ressaltou também que o caminho é ainda mais longo para a mulher negra ou parda e que reside fora dos centros urbanos das Regiões Sul e Sudeste.

Vanderlan Bolzani, pesquisadora da UNESP, afirmou que mesmo as mulheres sendo discriminadas nas ciências, elas se destacam de sobremaneira. “Quem fez o primeiro programa de computador foi uma mulher inglesa. Outro exemplo é Rosalind Franklin, pesquisadora extremamente importante para determinar a estrutura do DNA. Temos muitas mulheres de destaque na ciência no passado e no presente. Mas ainda somos poucas, por isso é preciso políticas de Estado na área da educação, ciência e tecnologia, incluindo meninos e meninas, sem discriminação”, destacou. Ela acrescentou ainda que as mulheres são estereotipadas. “Alegam que não temos perfil e características para a área da ciência. Precisamos desmontar esta ideia e audiências como essa fortalecem a nossa luta”.     

Para a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, a realidade brasileira é perversa com as mulheres, que têm 34% mais probabilidade de se formar no ensino superior do que os homens, mas também menos chances de conseguir emprego. “Por isso, é preciso acabar com todas as formas de discriminação contra as meninas e mulheres no nosso país. Precisamos articular com organismos internacionais que possam sedimentar ações afirmativas que garantam condições, por exemplo, para associar a maternidade com as atividades de pesquisadora”, afirmou.

A secretária de Políticas para as Mulheres da Bahia, Julieta Palmeira, reforçou no debate que a desigualdade de gênero e o machismo interferem de sobremodo a vida das mulheres pesquisadoras. “Na Bahia, o nosso projeto ‘Mulheres na Ciência’ busca fomentar políticas mais estruturantes no que se refere à gestão para as mulheres na área da ciência. Isso porque são poucas as mulheres que ocupam cargos de chefias dos grupos de pesquisa. Precisamos superar essa cultura machista e patriarcal”, ressaltou a secretária.

Ao final da audiência, a deputada Alice garantiu que irá propor mais ações na Câmara para ampliar a participação da mulher na área da ciência. Afirmou que apresentará um pedido para comemorar anualmente na Casa o Dia internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro.