Matando dragões
Ao ritmo em que cresce a intolerância de todo tipo em nossa sociedade, em fato recente, na Câmara dos Deputados, constatamos que, apesar de ruidosa e ofensiva, ela não é maior que a solidariedade.
À ofensa física que sofri se somou a verbal, com palavras que, apesar de a mim dirigidas, se transformaram em agressão a todas as mulheres que, fora e dentro do Congresso Nacional, matam vários dragões por dia para mostrar seu valor e disputar seu merecido lugar em suas casas, no trabalho, nos espaços de poder.
Desde então, tenho recebido de todos os cantos manifestações de apoio, palavras de afeto e de reconhecimento da minha luta. Uma luta que não é individual, não tem dono, mas destinatários.
Uma avalanche de revolta e indignação me envolveu. Mensagens de apoio, moções de repúdio, comentários nas redes sociais não paravam de chegar. Segundos de um episódio lamentável se converteram numa teia interminável e resistente pela qual sou imensamente grata.
Saímos todos fortalecidos e dispostos a matar quantos mais dragões se puserem no caminho da luta democrática. Eles todos têm nomes: preconceito, intolerância, machismo e fascismo. Se alimentam do sentimento de que os homens podem tudo, enquanto as mulheres devem se contentar com a submissão.
Soltam fogo pelas ventas quando imaginam uma sociedade igualitária, com espaço e oportunidades para todos. Não se conformam com nossa ousadia, com nossa perseverança e obstinação. Pois são essas nossas armas. As características que nos forjaram e nos permitem concretizar nossos sonhos e, dia a dia, abrir caminhos para que, enfim, nos libertemos das amarras que ainda nos são impostas pelo simples fato de sermos mulheres.
Médica, deputada federal (RJ) e líder do PCdoB na Câmara dos Deputados.