O Brasil passou por significativas mudanças nas últimas décadas, com destaque para a região Centro-Oeste, considerando sua ocupação mais recente. Dividida em 466 municípios, abrangendo três estados (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e o Distrito Federal, o território tem na agricultura sua principal atividade econômica. É o pilar financeiro, social e político da área, ligado intrinsecamente ao seu crescimento.

Esse foi justamente o escopo do seminário “Papel da Agricultura no Desenvolvimento do Centro-Oeste Brasileiro”, idealizado pela Fundação Maurício Grabois e pela Secretaria Nacional de Organização do PCdoB. O evento, realizado nesta segunda-feira (31) na Câmara dos Deputados, promoveu duas mesas de debate a fim de estabelecer a compreensão da situação atual, da força econômica, da base social e da influência política do tema, abarcando a pobreza e a concentração da riqueza na geração de renda no campo.

O presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, esteve na mesa de abertura, e salientou a importância da discussão. “Nos engajamos neste projeto porque entendemos que nosso partido deva atuar, lutar e, sobretudo, pretender transformar realidades, viabilizar um projeto nacional. Nossos comitês e nossas frentes de trabalho precisam cada vez mais e melhor conhecer a realidade na qual atuam. É a nossa práxis revolucionária, uma prática à luz do conhecimento profundo.”

Ricardo Alemão Abreu, Secretário Nacional de Organização do PCdoB, também participou da abertura do evento e frisou as mudanças enfrentadas pelo povo brasileiro e a necessidade de conscientização do que elas representam para a sociedade.

“Em pouco tempo, muita coisa mudou. É outro Brasil, transformado principalmente pelas políticas que o nosso partido exerceu junto à coaliZão de governo, com Lula e Dilma à frente. Conhecer o Brasil, a nossa história, o povo, a cultura, as nossas lutas, é uma tarefa primordial.
Nós precisamos unir, articular e formar um pensamento nacional mais avançado, que não deve ser patrimônio só dos comunistas, mas de todos os setores que vão protagonizar um Brasil forte, um Brasil desenvolvido”, relatou Alemão.

O evento foi aberto ao público, mas teve como público-alvo trabalhadores rurais, lideranças populares, pesquisadores e intelectuais ligados à agricultura, gestores públicos com atuação na área, lideranças empresariais, cooperativas e representantes da agroindústria.

Evaristo Eduardo de Miranda, um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre o tema e coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE), na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), participou do debate durante a tarde, ao lado do Professor Eliseu Roberto de Andrade Alves, um dos fundadores da Embrapa.

Miranda explicou que, se alguém pretende realmente entender um território, é preciso pensar em cinco quadros: o natural (biomas, climatologia, topografia), o agrário (apropriação da terra, a produção, unidades de conservação), o agrícola (dinâmica do uso e da ocupação das terras), o socioeconômico (indicadores de saúde, educação e pobreza no campo) e o infraestrutural (estradas, telecomunicação, eletrificação).

O coordenador do GITE exemplifica a análise desses pilares em relação à área abordada. “Dados coletados em 2009 mostram que a ocupação no Centro-Oeste brasileiro era de 26% à época, e grande parte dessa porcentagem relacionada à agricultura. Ainda temos muito para expandir em área e produtividade. O índice de educação básica teve uma das transformações mais impressionantes do Brasil, isso num prazo inferior a 10 anos. E mais: a contribuição da agricultura para o PIB do país cai no Sul, cai no Nordeste, mas o Centro-Oeste segue estável.”

Apesar dos dados, o Professor Eliseu Roberto de Andrade Alves destacou que houve uma verdadeira revolução no modo de fazer agricultura no Brasil. É uma reformulação no ponto de vista e do centro das decisões, que não acontecem mais no campo.

“Vendo os resultados, vi que a agricultura não precisava mais de mim. Quem precisava de mim eram os trabalhadores do campo. São eles que transformam tudo em glória ou fracasso. Toda a sustentabilidade é sustentabilidade da população que vive no meio rural. E não existe maior inimigo desse meio do que o agricultor pobre”, relatou Alves.

Mas, infelizmente, eles são muitos na região Centro-Oeste. De acordo com pesquisas apontadas em sua apresentação, 48% dos 261 mil estabelecimentos do setor, na região, são classificados como muito pobres.

“Grande parte dessa distorção de contração de renda foi produzida pelas políticas públicas, que tinham uma boa intenção, mas não ajudou os pequenos produtores. Como a tecnologia moderna depende de capital e de financiamento, os grandes saltaram à frente”, enfatizou Andrade.