A vitória em 2026 precisará do presidente em sua melhor forma e de uma frente ampla política e social

Sigo na torcida para que o presidente Lula volte com tudo nas conversas com o povo, no diálogo com movimentos sociais e na construção com as diversas forças políticas do País. Penso que esse é o caminho para moldar as iniciativas que melhor posicionem o governo e abram caminhos para a vitória em 2026.

Só Lula teria força para derrotar Jair Bolsonaro em 2022, e ele protagonizou os movimentos que viabilizaram essa vitória. Desde então, é perceptível uma presença contida do presidente no que importa da cena política, com exceção da agenda internacional.

E 2026? Bolsonaro estará inelegível, mas fica cada dia mais evidente que algum Bolsonaro se apresentará para a disputa. Parece-me que Lula segue competitivo, mas nunca é demais nos acautelarmos diante de números negativos que medem a percepção que a população tem do nosso governo.

Onde temos perdido apoio? Entre os mais pobres. A recente pesquisa Quaest mostrou que entre os eleitores com renda de até 2 salários-mínimos, parcela que sempre foi nossa fortaleza, há empate técnico entre os que aprovam (50%, eram 52% antes) e desaprovam (49%, eram 45%). A aprovação nessa faixa já foi de 69% há pouco mais de um ano. A perda nessa parcela tão numerosa é o principal fator para a alta rejeição detectada na sondagem.

A boa notícia é que avançamos na faixa de renda entre 2 e 5 salários, com apoio passando de 36% para 43% e rejeição caindo de 61% para 56%. Mas ainda assim é preocupante.

É curioso ver o crescimento da rejeição e a perda de apoio em um País cujos números da economia tenderiam a criar ambiente distinto. Vejamos.

Na gestão anterior, o PIB teve crescimento médio pífio de 1,14%. Com Lula, mesmo herdando o País em ruínas, com as contas arrasadas e a credibilidade na lona, tivemos crescimento médio de 3,3% no primeiro biênio, sendo 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024. Agora, no primeiro trimestre de 2025, novo impulso de 1,4% diante do último trimestre do ano anterior e 3,5% na comparação de 12 meses (IBGE). Esse resultado coloca o Brasil na quinta melhor posição do mundo nesse quesito, atrás apenas de Índia, China, Indonésia e Cingapura.

Se é verdade que os setores de serviços, comércio incluso, e agropecuária têm sido motores da economia há tempos, agora também merece destaque a recuperação experimentada pelo setor industrial. A indústria cresceu 3,1% em 2024, o terceiro melhor desempenho em 15 anos. Para 2025, a CNI prevê 2% de ampliação na produção, contudo, o resultado para os quatro trimestres divulgado pelo IBGE apontou novamente para 3,1%.

Nesse quadro, têm acontecido um crescimento sustentado das oportunidades no mercado de trabalho e um aumento na renda das famílias. Entre abril de 2023 e de 2025, a população ocupada cresceu mais de 5 milhões, passando de 98 para 103,3 milhões de pessoas. Os empregos formais criados no período foram 2,8 milhões. A remuneração mensal média foi de 3.229 para 3.487 reais, tendo a renda do trabalho crescido mais do que a inflação.

E atenção: a economia brasileira resiste ao Banco Central e seus juros escandalosos. A hegemonia da ortodoxia fiscalista segue na orientação econômica de nosso governo e cria travas para maior impulso no desenvolvimento nacional.

De todo modo, há o resgate de políticas públicas que foram sabotadas ou extintas no período anterior. Nesse rol entram a volta da política de reajuste permanente do salário-mínimo, o Bolsa Família, o Farmácia Popular, o Minha Casa, Minha Vida, dentre outras, e as novas que foram criadas nessa gestão ou estão para serem aprovadas pelo Congresso, como o Pé-de-Meia e a isenção de Imposto de Renda até 5 mil reais.

Mas, então, por que as realizações não estão se revertendo em melhoria dos índices de aprovação junto à população? Certamente há uma legião de marqueteiros, cientistas políticos, sociólogos e palpiteiros a procura dessa resposta. Sou dos que acreditam que há uma multiplicidade de fatores. Arrisco trazer alguns para debate.

É importante ter em mente que o ambiente político nacional e internacional, de polarização e radicalização de posições, dificulta muito que um governo central tenha apoio tão amplo quanto Lula teve em experiências passadas. Vivemos uma fase de dificuldades para produção de consensos mínimos na sociedade. Tanto é que governos de direita e de esquerda pelo mundo têm convivido com baixas popularidades e países divididos, como são os casos de Donald Trump, com apenas seis meses de mandato, Javier Milei, na Argentina, e Gabriel Boric, no Chile, para mencionar alguns.

Outra questão que me parece fundamental é que falta uma coordenação política que dê rumo ao governo, que unifique as iniciativas sob uma marca e traduza a mensagem para a população. Isso é também problema de comunicação, mas, antes de tudo, de política.

Tentarei ser mais concreto. O governo FHC foi o Plano Real; o Lula 1, o Bolsa-Família (“tirar o País do mapa da fome”); o Lula 2 foi o desenvolvimento nacional, Brasil protagonista, que se traduziu no PAC (“nunca antes na história deste País”). Parece-me que o Lula 3 ainda não encontrou esse norte, o que acaba gerando uma cacofonia interna e dispersão de energia.

A Quaest notou uma melhoria na percepção das pessoas sobre o ambiente econômico. Houve queda de 56% para 48% nas pessoas que consideram que a economia piorou, assim como diminuíram de 88% para 79% aqueles que perceberam aumento de preços nos supermercados. Tais percentuais, embora em declínio, continuam muito altos, mas é um começo.

Porém, a melhora da situação econômica foi atropelada pelo turbilhão da crise no INSS. A despeito de a fraude ter sido originada no governo Bolsonaro e descoberta e desbaratada na atual gestão, a fatura política caiu na conta de Lula – para 31% dos entrevistados, a responsabilidade recai no atual governo e apenas 8% entendem que é do anterior. Significa dizer que a oposição está ganhando, até agora, a narrativa sobre o ocorrido.

Certamente existem ainda outros fatores que contribuem para essa dificuldade em transformar as entregas feitas em popularidade. É preciso ter foco para estancar perdas e recuperar apoio na nossa base social mais forte e numerosa, o povão das periferias e do Nordeste. Essa é a primeira tarefa.

É certo fazer políticas sobre o gás de cozinha e o financiamento de motocicletas para os trabalhadores de apps, que precisam sair logo do papel e ganhar escala e efetividade. Além, é claro, do foco em aprovar logo a isenção de Imposto de Renda até 5 mil reais, que significará injeção direta de dinheiro nas mãos de milhões de famílias e gerar grande impulso econômico via consumo.

Também é certo que apenas a inclusão pelo consumo tem um limite, o que está demonstrado pela história recente. Precisamos participar da disputa política em curso defendendo valores da civilização, reafirmando sonhos e ideais de igualdade e justiça social, sem defensiva. Mobilizar a esperança!

A vitória do nosso campo em 2026 precisará do presidente Lula em sua melhor forma e de uma frente ampla política e social, que deve ter a contribuição da esquerda na construção de um programa que dê perspectiva e que permita mirar o futuro. O tal “sem medo de ser feliz” eternizado no jingle. O governo precisa desse Lula para superar as dificuldades e virar o jogo!

*Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB de São Paulo. Artigo publicado originalmente na Carta Capital.