O Ano da Eclâmpsia da Utopia
Difícil foi atravessar os 12 meses, as 52 semanas, os 365 dias do doloroso ano de 2015. Acelerado em seu começo, convulsionado em seu desenvolvimento, imponderável em seu desfecho, o ano que findou teve a marca e o medo da incerteza no ar.
Um ano marcado pelos ventos de uma crise no mundo, ainda incontrolada; de imagens de crianças submersas nos mares em busca de refúgio; de criminosas bombas terroristas abatendo o cotidiano de civis e desconstruindo nações, antes atacadas em sua soberania pelas grandes potências.
Um mundo instável, exportador de convulsões como uma grávida em pré-eclâmpsia. Esse mundo, ávido de parir nova vida de paz é envolvido em permanentes conflitos em suas imperialistas disputas de mercados.
O Brasil impregnou-se dessa “elevada pressão arterial” que pode ameaçar as nações em gestação do novo, como mulheres acometidas do futuro em seu corpo. E convulsionou-se.
No sítio Minhavida é possível encontrar os sintomas comuns da eclâmpsia: convulsões, perda de consciência e agitação que pode aparecer após a 20ª semana da fecundação.
A sociedade brasileira viveu tudo isso.
Sem norte diante das dificuldades da crise. Contaminada pela intolerância de uma elite ultraliberal, enraivecida porque não convenceu a maioria que deveria votar nela. Assaltada, na sua instância de representação parlamentar, por agente político cujo limite era a própria sobrevivência de seu poder total.
A sociedade brasileira perdeu a esperança no futuro, na sua utopia humana. E quase desiste de barrar os que queriam o caminho do obscurantismo, da desigualdade, do golpismo travestido no seu manto civil.
Na eclâmpsia há sempre a alternativa do Centro de Tratamento Intensivo (CTI), do sulfato de magnésio, como dizem os manuais. E até mesmo o parto, como única forma de curar o surto.
Saída do CTI com a Constituição na mão, entregue pelo Supremo Tribunal Federal, ao definir o rito do impeachment, à sociedade consciente cabe agora retomar às ruas para garantir que o país enfrente a crise sem que os trabalhadores paguem por ela.
O “sulfato de magnésio” é aplicado pela presidenta Dilma que elevou o salário mínimo em 11,6%, mais do que a inflação, assinou a Medida Provisória que agiliza acordos de leniência com empresas que denunciem crimes e editou decreto que autorizou a União a adotar novas condições nos contratos de refinanciamento de dívidas dos estados e municípios com a União.
Sinais de que começamos a buscar os caminhos.
Eduardo Galeano dizia: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. Insistamos na utopia.
*Jô Moraes é deputada federal pelo PCdoB de Minas Gerais e presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara