Em março de 1994, o Brasil julgou e condenou os envolvidos no que ficou conhecido como “Caso Escola Base”.

A partir de denúncia, os donos da escola infantil e um motorista do transporte escolar, foram acusados de abuso sexual.

À época, sem redes sociais (o Facebook, foi lançado apenas em 2003), a grande mídia deu plena repercussão ao caso e, antes mesmo que os acusados prestassem depoimento, o veredito já estava consagrado: culpados.

Em junho do mesmo ano, o caso foi arquivado, inocentando todos os acusados.

A justiça se impôs e fechou os olhos à pressão popular mobilizada, especialmente, pela emissora de maior audiência, a Rede Globo.

A justiça concentrou seu julgamento em fatos, depoimentos e provas.

A justiça foi capaz de atuar como dela se espera.

A justiça foi imparcial.

A decisão, no entanto, não foi capaz de recuperar os danos sofridos pelo verdadeiro linchamento a que foram expostos os envolvidos.

Indenizações foram propostas e aprovadas, mas nada foi suficiente para reparar a histeria coletiva em torno de informações amplamente veiculadas e tomadas pelo conjunto da sociedade como verdadeiras.

Passados 25 anos do caso, e num cenário onde as redes sociais disseminam conteúdos em velocidade e quantidade espantosas, é preciso refletir sobre como recebemos essas informações.

Em 1994, as pessoas aderiram à acusação sem questionamentos. Poucas vozes se levantaram contra o julgamento antecipado tamanho o clamor pela condenação.

Hoje, não é diferente. E o volume de fake news e títulos chamativos, mas enganosos, chegou a tal ponto que é difícil saber a diferença entre a verdade e a mentira. Tanto é assim que já há sites que têm como único objetivo a conferência de matérias.

Atualmente, a prática transformou-se em arma política a atacar adversários imputando-lhes falsas ações e falas.

E tidas como verdadeiras têm um alcance tão avassalador que, em poucos cliques e compartilhamentos, o prejuízo é irrecuperável.

O lema desses criminosos é: quanto mais fake news espalhadas, melhor. Mais votos para quem mentir mais.

Enquanto a justiça não age para punir com rigor a veiculação em massa de mentiras e as redes sociais nada fazem para coibir sua disseminação, é preciso o esforço de cada um para uma leitura crítica.

Não podemos ser simples receptores de informações. Nem permitir que nossas angústias e insatisfações sirvam de terreno fértil para propagar mentiras de efeito devastador na vida das pessoas e do país.

Informe-se!

A verdade independe de posição política. Quem se vale da mentira e do discurso de ódio para atingir seus objetivos não merece crédito.

O ambiente de intolerância e desinformação fragiliza nossa democracia.

E mais do que nunca é preciso fortalecê-la. Com coragem e disposição de lutar pela verdade.

*Deputada federal (PCdoB-RJ) e líder da Minoria na Câmara dos Deputados. Reproduzido do portal Viomundo